Arejar as ideias

Queridas Senhoras,

há uns anos (10, 15, 20, não sei precisar) não estava sempre a pensar em política. Tinha preocupações de justiça social, claro, mas não me lembro de ter sempre a política presente. Até que fui percebendo que tudo é política. Por isso, aquilo que está no meu pensamento num dia como o de hoje é o que está sempre no meu pensamento.

A importância de uma escola pública com todas as condições, que ofereça reais oportunidades de igualdade, com professores e funcionários motivados, com carreiras dignas e condições para desenvolverem o seu trabalho; alunos interessados e com o devido acompanhamento para colmatar as desigualdades de base, as dificuldades específicas, os obstáculos, e capaz de responder à individualidade de cada um.

A importância de um Serviço Nacional de Saúde bem apetrechado, eficaz, atento, humano, capaz de dar resposta às necessidades da população, às fragilidades de tantas situações difíceis, à saúde mental e emocional num mundo de profundas e radicais mudanças que nos tiram o chão a toda a hora.

A urgência de defender os direitos dos trabalhadores e a dignidade da vida humana. O direito a trabalho digno, à vida plena, e não apenas à sobrevivência. Eis o que está sempre, mas sempre, no meu pensamento. Como encarar o emprego, no presente e no futuro, que é já hoje.

A importância de proporcionar escolhas e oportunidades a todos, independentemente da sua origem e do modelo de organização familiar, profissional, social. Sabemos que o modelo baseado na família tradicional assentava numa sobrecarga de trabalho das mulheres, que asseguravam a totalidade das tarefas domésticas e de assistência à família, penalizadora do seu desenvolvimento profissional e pessoal, equilíbrio mental e emocional. Não se trata apenas de conciliar a vida familiar com a vida profissional, mas de repensar profundamente os modelos que nos regem. Não é só "apoiar as famílias", é respeitar as escolhas, permitir que as pessoas procurem e encontrem o modelo de vida que corresponde às suas aspirações, anseios, sonhos. É por isso que medidas como conceder subsídio de desemprego a quem se despede porque quer melhorar a sua situação profissional me parecem de uma lúcida e necessária justiça. É por isso que trazer para a agenda o tema do rendimento básico incondicional não é um disparate utópico, mas algo essencial na discussão do futuro do trabalho e do entendimento da existência humana.

Isso é o que está sempre no meu pensamento. Arejar as ideias é pensar em como vivemos e como queremos viver. E como vencer a distância que vai de um lado ao outro.

Céu

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