No meio de nós

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Queridas Senhoras,

Pai Nosso, o primeiro romance de Clara Ferreira Alves, lê-se de um fôlego. Sendo a autora quem é, jornalista e cronista que há muitos anos nos acompanha semanalmente, havia uma natural expectativa em torno deste livro que, imagino, esteja sob severo escrutínio. Dei conta de duas críticas até agora, uma mais favorável, outra em registo mordaz.

Como leitora das crónicas da CFA há vários anos, sempre me impressionou o conhecimento acerca do Médio-Oriente que as mesmas revelam. As complexas questões políticas, religiosas, sociais e culturais dessa zona do Globo são abordadas nesses textos e são também transpostas para este romance tremendamente actual.

No centro da história temos Maria (ou Marie) uma fotógrafa de guerra portuguesa criada entre Campolide e Benfica. Maria move-se entre Jerusalém, Bagdade ou Telavive, mas nunca perde a ligação a Lisboa. O romance cruza por isso diversos cenários, desde os palcos da guerra aos fins de tarde no American Colony (a “unhappy hour”) onde os jornalistas discutem o “conflito” e a “situação”, passando pela Lapa e pelo Guincho (os “palácios de Inverno e de Verão” da amiga Beatriz, a única verdadeira família que lhe resta) e pelas memórias da infância com vista para a linha do comboio nos limites de Lisboa e depois nos subúrbios, na casa da tia de Benfica que lia romances de cordel. Mau grado o desprezo por essa literatura menor, a dura Maria acabará por cair nos braços de um autêntico príncipe das arábias, de poucas palavras e olhar profundo.   A intriga desenrola-se ao ritmo dos gins, das viagens e dos amores de Maria, cruzando ambientes aparentados aos romances de espionagem à maneira de John Le Carré com a reportagem lida no jornal de hoje.

Lê-se de um trago, não sem apreensão.

Beijinhos a todas,

 

Céu

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