Bootcamp para pais ansiosos




Queridas Senhoras,

costumo ler com interesse as crónicas de Inês Teotónio Pereira (A Um Metro do Chão). Inês delicia-nos com histórias e opiniões sobre a vida familiar (julgo que são sete filhos), social e política, do seu ponto de vista de mãe e mulher católica de direita.

No último texto Inês defende que o problema da baixa natalidade é...a baixa natalidade. Ou seja, como as pessoas têm poucos (ou nenhuns) filhos, a sociedade não precisa de criar respostas e condições para famílias com muitos filhos.

Convenhamos: os pais de um ou dois filhos são uns meninos. Não sabem nada sobre as dificuldades de criar quatro ou cinco cachopos de uma assentada. Por isso lembrei-me de uma coisa que não sei como ainda não existe. Campos de treino para pais dirigidos por pais e mães de famílias numerosas.

Campos de treino à séria, género bootcamp, com instrutores aos berros. Só que em vez de flexões e abdominais, as bestas gritam “Muda a fralda!”, “Limpa o vomitado!”, “Vai fazer a sopa. Só com batata, cenoura e nabo!”, “Olha que é batata-doce, estúpido!”

Atenção que nestes campos não há empregadas nem colégios caros, daqueles que oferecem como opções treino para astronauta e doutoramentos em Oxford. As actividades são Inglês e Música do programa normal.  E já gozam. Tocam flauta como os outros, não há violinos. Ah e também tudo acontece num apartamento acanhado nos subúrbios. Não há casas de campo fantásticas onde “os miúdos têm imenso espaço para brincar” ou T5 nos bairros finos da cidade, "óptimos para famílias".

Não há cá espaço para a individualidade, “tempo para mim”, “tempo para o casal” e outras picuinhices do género. É linha de montagem pura e dura. Enfia a papa, mete a máquina a lavar, corre com o bebé a arder em febre para as urgências (hospital público, se faz favor), ajuda os mais velhos a fazer os trabalhos de casa, resolve o medo do escuro dos do meio e, de caminho, explica o que é Deus e a Morte. Depressinha, que ainda tens de ir fazer meia-dúzia de camas de lavado. Lembra-te que não há empregada.

Ah mas a relação do casal é tão importante, é a base de tudo, é preciso manter a chama acesa. Força! Aproveitem que o mais novo acordou a meio da noite com a cama mijada, o outro vomitou, o outro quis leite, um quis água e xixi, e depois de tudo tratado, e já que estão acordados (ignorem o cheiro a vomitado e a mijo que se espalhou pelo apartamento acanhado), aproveitem o momento. Quem sabe não fazem mais um bebé adorável?

Beijinhos a todas,

Céu

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