12 dias com a cabeça nas nuvens


Queridas Senhoras,

confesso que ainda não consegui descansar. Como seria de esperar, não sei estar desempregada. Ao mesmo tempo, tornei-me mais lenta. Mas como não estou habituada à lentidão, é tudo um bocado confuso e atabalhoado. Deito-me mais tarde mas acordo à mesma hora por causa da escola dos miúdos. Tudo despachado e só depois é que vou correr porque é incomparavelmente melhor correr com luz diurna e sol a brilhar do que antes do amanhecer. O resultado é que facilmente chegam as onze da manhã sem ter tomado banho. Típico.

Quero fazer várias coisas mas estou descoordenada. Dou por mim em sítios a horas em que não devia lá estar. Não há ninguém na mercearia ou na lavandaria às três da tarde. A verdade é essa. Três da tarde é uma hora em que toda a gente tem mais que fazer. Quis muito aproveitar para ir ao cinema e, de rajada, vi três filmes. Num deles fui a única espectadora da sessão. O que é giro e tal mas também um pouco deprimente. Mas ir ao cinema a meio da tarde de um dia de semana era uma espécie de sonho por cumprir e tem uma certa aura.

O desemprego dá, aliás, excelentes filmes. Dois deles são bem recentes e têm andado sempre comigo. Falo dos excelentes A Lei do Mercado e Eu, Daniel Blake, muito aclamados aqui no blogue.

Está também explicado por que não me calei, o ano passado, com Índice Médio de Felicidade, livro que li com avidez e sobre o qual escrevi com excessiva emotividade. Na altura não podia dizer mas identifiquei-me à brava com aquele protagonista. Há ainda aquele filme marcante (não me consigo lembrar do título) sobre o desempregado que finge sair todos os dias para trabalhar. E temos, claro, o Up in the Air / Nas Nuvens, que tem inspirado as minhas visitas ao centro de emprego, com Clooney a encarnar um sedutor consultor de despedimentos, perdão, reestruturações.

Mas nas nuvens ando eu, a apalpar terreno, sentindo-me sempre estranha, observando-me de fora. Hoje, no yoga, apanhei um susto. É normal, durante o relaxamento, “passar para o outro lado” mas hoje, ao despertar do abandono, senti uma súbita vertigem. Por longos segundos, não soube onde estava, que horas eram, se tinha de acordar para ir trabalhar ou se era esperada num lugar qualquer onde já devia estar há muito.

Uf, ainda bem que amanhã é fim-de-semana.

Beijinhos a todas,

Céu


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