Os livros não têm pressa

A-livraria-500x727

Queridas Senhoras,

em Novembro (o tempo passa, chiça) a Marta falou aqui de A Livraria de Penelope Fitzgerald. Como manifestei interesse (coisa nada rara quando se trata de sugestões da Marta), pouco depois recebi o livrinho pelo correio, dando seguimento ao nosso já lendário intercâmbio. O livro ficou pacientemente à espera na mesa-de-cabeceira.

Não é que não tivesse vontade de o ler mas tinha outras coisas em mãos. E achei que o livrinho se deixaria ler bem em qualquer altura. Pequeno, discreto, foi ficando ali, com a sua capa muito digna e composta. Entretanto descobri a Elena Ferrante, li A Amiga Genial, sobre o qual escrevi para a Maria Capaz, e depois ainda, da mesma autora, Crónicas do Mal de Amor.

Quando fui de férias, na Páscoa, não me ocorreu levá-lo. Para quê sujeitar um volume tão singelo e elegante aos percalços da viagem? A leitura seria sôfrega, não demoraria dois dias. De modo que levei o bem mais substancial Origens, de Amin Maalouf.

Até que, na semana passada, peguei nele. Estava tão sereno como antes. E há qualquer coisa de reconfortante num livro que espera por nós, indiferente às pressas e às pressões. Nos meses em que A Livraria esteve na minha mesa-de-cabeceira, eu continuei a correr desenfreadamente como de costume (e até corri uma meia-maratona pelo meio). Por ironia, passei até a ser mais vigiada e controlada. Por um relógio de ponto, para ser precisa. Que detecta “anomalias” no meu horário e regista que trabalhei apenas “7 e 59 minutos” em vez de oito horas.

Ligo e desligo o relógio de ponto todos os dias. Mas eu própria não consigo desligar. É essa a verdadeira anomalia. O Kelio (é assim que se chama o relógio de ponto, juro) não tem provavelmente noção disto. O Kelio não espera por mim. Tal como o comboio parte sem mim, sempre que me atraso, por mais que corra para apanhá-lo. Nem a aula de yoga deixa de começar a horas. Os miúdos têm que estar na cama o mais tardar às dez da noite. E é a essa hora que começa também a minha série.

Só os livros não têm hora marcada. E ainda menos os que estão fora do circuito, das novidades, daquilo que é suposto andar a ler. Se calhar foi por isso que A Livraria me soube tão, mas tão bem.

Obrigada, Marta.

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. [...] contenção no tom talvez, e também o facto de versar sobre a vida de mulheres, que me fez lembrar A Livraria de Penelope Fitzgerald, que li pouco antes deste, via [...]

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Conversem connosco: