Cave em palacete de luxo

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Queridas Senhoras,

Lisboa tem restaurantes lindos e entusiasmantes, todas as semanas há sítios novos a abrir e, como já disse aqui, fica difícil não querer ir simplesmente a todo o lado. De vez em quando lá tenho que ceder à tentação que uma mulher não é de ferro.

A escolha para um (há muito devido) jantar romântico a dois recaiu no Cave 23, que me apareceu à frente numa revista com um bom aspecto tremendo. E com uma envolvente que me fala directamente ao coração. O restaurante é a mais recente novidade do Torel Palace, uma guesthouse de charme na colina de Santana, zona tranquila conhecida pelos belos palacetes e pelo jardim-miradouro do Torel, um dos menos concorridos, mas não menos bonitos, da cidade.

Ao cimo da Calçada do Lavra, a do elevador homónimo, que vem cá de baixo das Portas de Santo Antão e sobe à dita colina, desembocamos na Rua Câmara Pestana, morada do Torel Palace que surge ao fundo, à direita, com um portão aberto e uma aura de charme.

É o género de sítio que os turistas adoram e que os locais cada vez mais frequentam, aproveitando o bar, a esplanada, o terraço e as vistas sobre a cidade. Isto é válido para os hotéis modernos e modernaços. Mas a Lisboa destes palacetes escondidos, semi-ocultos em ruas pacatas, é outra história, é outro universo.

No Verão, a esplanada do deck bar (como lhe chamam aqui), debruçada sobre a piscina e a vigiar a colina fronteira de São Pedro de Alcântara, é daquelas que fazem capa de revista. Numa noite fria de Inverno, com as luzes da cidade a brilhar e a música a reverberar vinda da Avenida da Liberdade, tem um encanto de outra espécie, que combina com mantas e conversas em voz baixa.

A cave

Ainda não descemos à cave e já escrevi isto tudo. Não é bem uma cave, entenda-se. Fica num piso inferior, numa sala escavada por baixo da esplanada, à qual se acede por uma escada em pedra. O ambiente é mesmo muito acolhedor como se pode ver nas fotos. A iluminação é perfeita, há um candelabro com velas acesas e uma espécie de jardim interior por trás de uma parede em vidro também calorosamente iluminada. Está-se muito, muito bem.

O plano, como sempre acontece em restaurantes caros, é sermos extremamente comedidos. É chato, há algum embaraço ou constrangimento a ultrapassar mas tem de ser assim ou então nunca poríamos os pés em sítios destes.

Aceitamos o couvert que é constituído por três manteigas (simples, de chouriço e de coentros) e um queijo alentejano amanteigado. Acompanha com pão escuro, estaladiço, de miolo fresco.

A carta é muito simples: tem cinco entradas e cinco pratos, identificados pelo ingrediente principal, seguido da descrição dos acompanhamentos. Seguindo o plano à risca, optamos por dividir uma entrada e um prato. O empregado pergunta, à cautela, se estamos com muita fome e asseguramos que não, queremos sobretudo saborear. O pessoal da Amadora é mesmo assim, não tem vergonha nenhuma.

Antes da entrada pedida, chega à mesa um miminho da chefe: Puré de abóbora com sementes de girassol e tiras de cebolinho servido num copo pequeno. Macio e aconchegante.

A entrada chega gentilmente dividida em dois pratos: Lingueirão com quinoa real, chutney de pêssego, cebola roxa e caril. Uma forte e boa combinação de sabores que procuramos fazer durar em garfadas lentas. A quantidade é singela.

Para prato principal decidimo-nos pelo Tamboril com couscous, mexilhões e curcuma que se apresenta igualmente repartido por dois. O delicado pedaço de peixe apresenta uma consistência e sabor perfeitos.

Antes da sobremesa que escolhemos, somos brindados com outro carinho da chefe: um cubo de petit-gateaux de chocolate. Esta surpresa abre caminho para a Abóbora com requeijão, caramelo, amêndoa e pólen. Com o café vem ainda um pratinho de petit-fours.

Quanto é que esta brincadeira custou? Com dois copos de vinho e um litro de água, pagámos 61 euros. Mas fomos realmente pelos mínimos. Se estivéssemos estado mais à vontade, a conta facilmente iria por aí fora.

O cigarro fumámo-lo cá fora, ao cimo das escadas, sentados em dois cadeirões, a olhar o belo perfil do palacete, pintado de um azul forte. Numa das varandas um casal que tinha jantado no restaurante fumava também um cigarro e gozava o ambiente e a vista sobre a noite da cidade.

Beijinhos a todas!

Céu

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