Os leitores falam às Senhoras: Sérgio Almeida (jornalista)





Queridas Senhoras,

conhecem a rubrica Companhia dos Livros do Jornal de Notícias? Em texto ou vídeo, o jornalista Sérgio Almeida apresenta semanalmente variadas propostas literárias, seja à volta de um tema, um género literário, um pretexto (por exemplo, livros para férias), um autor ou outra perspectiva. Jornalista desde 1993, Sérgio Almeida modera os ciclos literários Porto de Encontro e Palavra de Escritor. É ainda autor dos livros Análise epistemológica da treta (contos), Armai-vos uns aos outros (novelas), Como ficar louco e gostar disso (prosa poética), Ob-dejectos (poesia), Não conto (contos) e O elefante que não sabia voar (infantil). Está publicado no Brasil. É membro e co-fundador do Sindicato do Credo, colectivo de performance poética.


1. O que está a ler neste momento?

O Fiel Defunto, de Germano Almeida, As Barbas do Profeta, de Eduardo Mendoza, e Sobre a Arte Literária, de Fernando Pessoa. Gosto de cruzar géneros. Expandem-nos a mente e estimulam-nos sem interferirem com o nosso estado sóbrio.

2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?

Terminei há poucos dias A Tempestade, de Marina Perezagua, e Traçar um Nome no Coração do Branco, de Rosa Alice Branco. Seguem-se Memórias Secretas, de Mário Cláudio, e Ébano, de Ryszard Kapuscinski.

3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros

Lembro-me de, muito novo ainda, entrar em livrarias do Porto e espantar-me com os livros que galgavam pelas paredes acima. Foi nesse instante que me apercebi que os livros são organismos vivos que se reproduzem secretamente. A minha biblioteca que o diga.

4. Que livros marcaram a sua adolescência?

Até aos 14 anos, fui um inveterado leitor de BD. Do Astérix ao Gaston Lagaffe, pouco me escapou. O gosto pelos romances e pela poesia apareceu um pouco depois. Eça foi uma revelação, Alexandre Herculano uma assombração (das boas, para que conste). Foi nessa altura que descobri os grandes contistas americanos, como O. Henry, Scott Fitzgerald, Edgar Allan Poe, J. D. Salinger... Na recta final da adolescência conheci o universo de Boris Vian e deixei-me seduzir pelo seu humor surreal e provocador. Até hoje.

5. Um local público onde goste de ler

Gosto de ler no comboio e no metro, mesmo que corra o risco de sair na paragem errada, como já aconteceu demasiadas vezes.

6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)

O sofá do escritório é o meu recanto preferido de leitura, mas quando ele está ocupado por razões superiores (leia-se brincadeiras das filhotas), tenho que procurar alternativas, qual desalojado literário. Nesse caso, tudo vale: sala, quarto, sótão, casa de banho, casota do cão (se o tivesse, claro)...

7. Uma biblioteca importante para si

Por razões afectivas, a Biblioteca Municipal de Espinho. Foi lá que tive o meu primeiro emprego de Verão, aos 14 anos, o que acabou por ser decisivo para a paixão livresca. Prometo, todavia, que não tenciono processá-los pelos rombos sucessivos que essa paixão livresca tem provocado na minha conta bancária...

8. As livrarias que costuma visitar

A Utopia, no Porto, é uma referência para quem goste de livros cuja validade é superior. Apesar de já há muito tempo dever uma visita ao grande Herculano Lapa...

9. Uma editora de que goste particularmente

Há editoras que, pelo catálogo que ostentam, têm uma espécie de selo literário de qualidade, levando-nos a confiar de forma quase total nas suas novas propostas. Destacaria a Relógio D' Água ou Quetzal e, mais recentemente, a Elsinore.

10. Que livros gostaria de reler?

Por dever profissional – o ciclo de publicação é infernal -, não releio livros com grande frequência. Até porque defendo, até certo ponto, que não devemos voltar sempre aos lugares onde fomos felizes. Mas claro que faço tenção de voltar algum dia a livros que muito marcaram a minha juventude, como Crime e castigo, O estrangeiro, Memórias de Adriano ou Eurico, o Presbítero.

11. Que livros está a guardar para ler na velhice?

Finnegans wake, de James Joyce. Talvez para partir com a convicção de que somos eternos aprendizes na vida.

12. Acessórios de leitura que não dispensa.

Sou viciado em marcadores! Acumulo-os às centenas, mas, por qualquer razão insondável, desaparecem sempre quando mais preciso deles...

13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?

Como seguidor fiel dos 10 Direitos do Leitor, de Daniel Pennac, entendo que qualquer leitor tem o direito de saltar páginas, ler em qualquer lugar, ler não importa o quê e, acima de tudo, o direito de não ler. Posto isto, há autores de que gostamos tanto que insistimos na leitura, mesmo que o início não nos arrebate. Regra geral, somos compensados.

14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?

Tenho uma predilecção especial por «escritores de escritores», ou seja, autores cuja obra assenta na sua condição de grandes leitores. Destaco três, embora haja muito mais exemplos: Jorge Luis Borges, Alberto Manguel e Enrique Vila-Matas.

15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade 

«Na realidade, só há livros.» — Bruno Schulz





Beijinhos a todas,

Céu






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