Queridas Senhoras,
A Susana Esteves Pinto é uma amiga desta nossa casa há muito. Hoje sou eu, a Marta, quem vos traz esta Leitora. Trabalho para a Susana há vários anos e a fasquia está sempre a subir, a qualidade é sempre o critério preferencial acima de todos os outros, as coisas são pensadas com lucidez e executadas com estilo. Na vida pessoal, o modus operandi mantém-se - e isso reflecte-se nas leituras, evidentemente. Que são muitas e sempre muito boas.
A Susana nasceu em Lisboa poucos meses depois do 25 de Abril. Viveu em Portimão, em Vila Nova de Tazém (Serra da Estrela) e regressou à capital, onde se formou em design de comunicação e gestão cultural e trabalhou nos projectos mais aliciantes que foi encontrando, até criar o Simplesmente Branco e, logo a seguir, a revista digital S Magazine, referências de qualidade e frescura no panorama do casamento em Portugal. 2014 foi o ano da criação de mais um projeto digital, We are the Destination. «Mantenho-me à frente destas plataformas na função de editora, até que a próxima boa ideia me seduza».Em 2015, publicou, juntamente com Maria João Soares, o livro "Queres casar comigo? - guia prático para um dia muito feliz".
1. O que está a ler neste momento?
Segunda volta para o The God of small things, da Arundhati Roy. Li-o quando saiu, há vinte anos e entrou por mim adentro. Ofereci alguns, esperei pacientemente pelo segundo livro dela, que saiu no verão passado, mas que ficou tão aquém. Este, continua a ser uma história fortíssima e muito bela, feita de nuances e sinais.
2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?
Li o Call me by your name, que deu origem ao filme bonito. Estou a acumular os livros para as férias: comprei o Voss, de Patrick White, The Little Friend, da Donna Tartt (gostei muito do The Goldfinch e este é enorme e tem uma bela capa - perfeito para as férias), The round house, de Louise Erdrich, e na lista do The Book Depository estão Kitchen confidential, do Anthony Bourdain, e Manhattan Beach, de Jennifer Egan.
3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros
Aprendi a ler aos 4, em simultâneo com o meu irmão, que tinha 6. Vivíamos em Portimão e desde muito pequenos passávamos tardes inteiras na Biblioteca Municipal, um edifício antigo, com uma
escadaria de pedra no exterior, armários de madeira com portas de vidro, mesas enormes e livros até ao tecto. Ficava em frente a um jardim que tinha uma fonte.
Íamos sozinhos para a biblioteca, seguindo sempre no mesmo passeio (eram os anos 80) - devíamos demorar uns dez minutos. Às vezes levávamos um pequeno barco a motor para brincar na fonte,
antes ou depois. Comecei pelos livros dos pequeninos, passei para as prateleiras do Astérix, Spirou, Taka Takata, Humpá-Pá, Tintin e toda a banda desenhada de capa dura. Daí, para o MacGurk e para a Patrícia e afins, daí para a colecção Livros do Brazil. Um dia, ao preencher as folhinhas cor-de-rosa do empréstimo, a bibliotecária, que nos conhecia de muito pequenos, pergunta-me: "de onde tiraste estes livros?" e eu, singelamente, "da estante ali do fundo". "Ah, mas esses livros são para
adultos." E eu, a olhar para o meu Pearl S. Buck, pensei... mas já li tudo o resto... Vieram comigo.
4. Que livros marcaram a sua adolescência?
Toda a colecção dos livros da Patrícia, lia um por dia, nas férias do verão. E as Aventuras de MacGurk. Histórias de miúdos, para miúdos, da minha idade. Erico Veríssimo, o mais belo escritor brasileiro, que descobri com o Música ao longe e depois Clarissa e todos os outros fora da série. Os neo-realistas dos anos 60, Vitorino Nemésio, Virgílio Ferreira e afins, que havia lá em casa, nas férias (lia sem critério, estava na estante, era o seguinte na fila). Devorei também todo o Eça de Queirós, que existia profusamente lá em casa, um favorito pessoal e profissional do meu pai.
5. Um local público onde goste de ler
Nos transportes públicos e em viagem, em geral (comboio, avião) é um momento de evasão total!
6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)
Não leio em casa, curiosamente.
7. Uma biblioteca importante para si
A Biblioteca Municipal de Portimão (que já foi demolida), que foi uma segunda casa. A Biblioteca itinerante da Gulbenkian, que passava de 15 em 15 dias, em Vila Nova de Tazém, na Serra da Estrela, onde em 82 vivi e frequentei a 4ª classe. Eram livros singelos, perante a escolha com que cresci, e esperar 2 semanas por uma nova leitura, era um tédio, mas a chegada da carrinha cinzenta azulada ao largo da Igreja, era sempre dia de festa - ainda hoje tenho o meu cartão de leitora!
8. As livrarias que costuma visitar
Em Londres, a Foyles e a Waterstones. Depois de ir a estas, tudo o resto fica sem graça.
9. Uma editora de que goste particularmente
Planeta Tangerina, para os miúdos, Penguin Books para as reedições dos clássicos. A E-Primatur tem um design muito bonito, tal como a Tinta da China. Quando estava na faculdade, e a livraria da Valentim de Carvalho, no Rossio (onde hoje é a Seaside) existia, passava lá muito tempo, entre os livros de design e todas as edições da Assírio & Alvim, à época em todo o seu esplendor.
10. Que livros gostaria de reler?
Raramente releio.
11. Que livros está a guardar para ler na velhice?
Guardar para quê? Prazo máximo de validade é para as férias de verão, a cada ano. Menos que cinco exemplares, nem pensar!
12. Acessórios de leitura que não dispensa
Uma bebida fresca, no verão, e óculos de sol.
13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?
Ponho sempre de lado - não é o livro certo no momento certo. Quando regresso, dou-lhe a atenção que merece. Aconteceu-me, de forma claríssima, com o Para sempre, do Virgílio Ferreira. Se é mau, não lhe dou uma segunda hipótese, não é preciso perder tempo com coisas que não o merecem.
14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?
Não - gosto da surpresa e de confiar na minha intuição. Uma capa bem desenhada é meio caminho para lhe prestar atenção.
15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade
"É preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesma", Il gattopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Demorei muito tempo a perceber esta frase, mas hoje em dia, tomo-a como verdade absoluta, muitas vezes.
"The cure for anything is salt water - tears, sweat, or the sea", Isak Dinesen, pseudónimo de Karen Blixen. É um facto :)
Beijinhos a todas,
Marta
Comentários
Enviar um comentário
Conversem connosco: