A noite multicultural

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Queridas Senhoras,

a S. fez anos. Fomos jantar fora para celebrar, o grupinho habitual. Local escolhido: The Soul Kitchen, um restaurante de influência jamaicana aberto há três meses na zona de Arroios. Uma surpresa completa, um sucesso, uma daquelas noites que vamos recordar por muito tempo. (Lembram-se quando fomos ao jamaicano?)

O que faz o sucesso de um sítio numa altura em que abrem meia-dúzia de novos locais por semana? Este tem vários trunfos, na minha opinião. Para além da cozinha diferente, a localização é interessante. Não está em nenhuma das zonas óbvias. Fica numa transversal da Rua Morais Soares, numa rua residencial sossegada e trabalha à porta fechada. (A localização fez-me pensar nas “zonas neutras” do livro No Café da Juventude Perdida, o segundo Modiano que li, empréstimo da Senhora Marta, de que falarei num próximo post).

No interior a configuração é a de uma casa, com recantos acolhedores, mesas quadradas de sala de jantar, aquecedores antigos. Ao fundo a porta das traseiras dá para um pátio com sofás onde no mês de Outubro, quando abriu, ainda se fizeram alguns dos proverbiais sunsets. Agora que os dias começam a ficar maiores querem começar a abrir ao domingo a partir do final da tarde, para petiscos e música no pátio. (Deve ser ainda melhor do que soa.)

Para a mesa vieram pastéis de carne e vegetais, gaucamole, hummus, estufado de rabo de boi, caril de camarão, frango tostado com molho jerk. E azeitonas e quadradinhos de pão alentejano torrado com azeite e orégãos. Um festim. Tudo isto acompanhado por um serviço impecável, atento, célere, sem tempos mortos mas sem imposições. Juntem ainda três sobremesas para dividir (como tudo o resto, aliás) e o preço de 18 euros por pessoa parece-me justíssimo.

Seguimos depois para o Intendente no nosso périplo semestral para ver como param as modas. (Pelo caminho apanhámos uns espanhóis que só queriam saber onde ficavam os bares frequentados por “pessoas de outros países”. Porque, diziam eles, “os portugueses só falam com portugueses”. Não estou por dentro do que se passa na noite mas pensei que agora, com anos de Erasmus, era tudo uma grande família. Pela minha parte, tentei dizer que sim, hablamos com pessoas de outras línguas. Mas que sei eu?).

No agora tão falado Intendente, as ditas modas são mais alternativas, já se sabe (embora já não me entenda nestes conceitos, os sítios que pegam estão sempre a abarrotar, por isso não são grande alternativa, enquanto suponho que os outros vão ficando às moscas). Excepto umas poucas almas na esplanada do largo, estava tudo enfiado na Casa Independente, uma espécie de Pensão Amor mais linha dura, menos cabaret. Sobem-se as escadas, encontram-se portas e salas onde não cabe um alfinete, não se percebe bem o sítio mas depois percebe-se. É mesmo assim. Felizmente conseguimos descobrir o caminho para o terraço, o local mais desafogado do edifício.

Deixámos os hipsters em paz e seguimos em direcção ao Martim Moniz por uma avenida deserta e pouco convidativa, iluminada pelas lojas de mobiliário espelhado. No final encontrámos a praça vazia, desolada, com tudo fechado. A mudança neste eixo da cidade tem ocupado páginas de revistas e é um facto que muito mudou. Mas nesta noite fria de Janeiro, ainda para mais um sábado, não sentimos que fosse seguro ou sequer muito recomendável percorrer estes caminhos a pé. (A minha mãe que não me ouça.)

 

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. [...] explorado a zona de Marvila (que se confirma estar cada vez mais em alta), completámos agora um circuito iniciado em Janeiro quando andámos pelo Intendente/Martim Moniz, sem ter chegado a mergulhar nas [...]

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