Música, literatura, faróis e javalis



«Laissez lire, et laissez danser; ces deux amusements ne feront jamais de mal au monde.» Voltaire

Queridas Senhoras,

no sábado passado fui a Cascais. Isto, só por si, é motivo mais do que suficiente para escrever um post. As saudades são cada vez mais intensas, onze anos depois de me ter mudado para Coimbra, e a imagem de um regresso parece estar a assumir contornos definidos.

Dizia eu que fui a Cascais. O pretexto foi um concerto na belíssima oficina/livraria da Andreia, a Arte no Livro, seguido de um jantar entre amigos de toda a vida. Também lá estava a nossa Susana. Cascais é uma terra muito bonita, não há dúvida, mas são as pessoas que fazem dela o meu lugar.

Cheguei mesmo em cima da hora, já estava a sala cheia e os músicos a postos. As músicas dos The Loafing Heroes são envolventes e intrigantes, com camadas de instrumentos e de palavras magistralmente orquestradas pelo líder, Bartholomew Ryan, irlandês, que veio para Portugal aprofundar os seus conhecimentos em Filosofia da Linguagem (actualmente desenvolve o seu trabalho num pós-doutoramento, na Nova, dedicado a Kierkegaard e Fernando Pessoa). Também na Nova estudou João Tordo, o escritor, que ali, naquele palco, toca contrabaixo. E guitarra, um pouco, numa canção chamada Javali, porque Ryan se deixou encantar pela sonoridade da palavra - e eu deduzo que a tenha descoberto através do malogrado javali do livro Biografia Involuntária dos Amantes, de João Tordo.
Giulia Gallina, italiana, toca concertina e complementa, com doçura, a voz de Ryan. Há ainda violinos, percussão e outras participações, que oscilam de acordo com a capacidade de estes loafers se conseguirem encontrar no mesmo ponto do mundo.

Bem, eu nunca tinha lido João Tordo. Estou agora a descobrir O Luto de Elias Gro, porque se passa num farol, numa ilha remota e escassamente habitada. E, de seguida, lerei a Biografia Involuntária dos Amantes, por causa do javali e de uma referência a um quadro do Hopper. Sobre tudo isto falarei a seu tempo.

Por hoje, quero apenas dizer-vos que é o Dia Mundial da Música e os The Loafing Heroes estão a promover uma acção de crowdfunding para a gravação do seu próximo álbum. Já não falta muito tempo (nem muito dinheiro), por isso convido-vos a contribuir.


Por entre traduções de Albert Caeiro e referências a W.H. Auden, ainda tive direito a uma versão dos Cure. Como se fosse só para mim.

Beijos,

Marta

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