But my baby just loves to dance



Queridas Senhoras,

Stellan Skarsgård será sempre, para mim, o marido de Ondas de Paixão. Lembro-me também dele noutros filmes de Lars Von Trier e em O Bom Rebelde, por exemplo. Esta semana reencontrei-o numa série da BBC de 2015 que a Netflix está a transmitir (felizmente). Seis longos episódios vistos em dois dias, com um elenco de luxo e uma banda sonora disco.

Oh I love to love
But my baby just loves to dance

A canção não me sai da cabeça. RIVER passa-se em Londres, na actualidade, e centra-se numa equipa de detectives da polícia que acaba de perder um dos seus elementos. John River é o protagonista e também, de certa forma, o argumentista dentro do argumento assinado por Abi Morgan. Porque a história a que assistimos é uma parte realidade e três partes efabulação, já que River, um solitário empedernido aos olhos do mundo, vive em permanente diálogo com pessoas que não estão ali (mortos, sobretudo, mas não só), o que lhe custa a fama de não estar bem da cabeça.

E não está. Essas alucinações (ou manifestações, como ele lhes chama) começaram bem cedo, na adolescência, e desde então River nunca mais esteve sozinho. Tem dificuldade, no entanto, em relacionar-se com as pessoas reais à sua volta - à excepção de Stevie, a sua colega, a sua única amiga, a sua tantas coisas que viu morrer uma noite, no meio da rua, com um tiro na cabeça.

Temos a sorte de conhecermos Stevie ao longo da série, embora a acção comece já depois do assassinato da detective - e não através de flashbacks. É que Stevie está quase sempre com River. Mas conhecê-la-emos, de facto, ou teremos apenas acesso à personificação daquilo que River gostava que Stevie fosse?

Ao longo da investigação deste caso, vamos conhecendo melhor o passado dorido deste homem, a infância cravejada de nódoas negras - daquelas que não se curam com o tempo - e a luta com a doença mental, que ainda assim não o impede de ser um excelente detective. A descoberta do assassino de Stevie passa pela revelação de outras histórias, que envolvem outras das personagens, e que são sempre profundamente trágicas. É isso que RIVER é: uma tragédia shakesperiana do séc. XXI. E, uma vez passada na Londres do séc. XXI, a heterogeneidade da população é como que uma das personagens.
No final, bem, não há consolo possível, apesar de haver a ilusão disso.

E agora, para aligeirar, sing, you nutters!



Beijinhos!
Marta

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