Férias

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Queridas Senhoras,

uma semana de férias com sabor a Verão foi aquilo a que tivemos direito. Tirando o enfado de fazer e desfazer malas, a canseira de arrumar e limpar, a costumeira sensação de nunca termos descanso, na verdade foi uma semana bastante descansada, no sentido mais produtivo do termo.

Corrida
A corrida matinal ganha outro impulso com a brisa marítima. Saio para correr todos os dias por volta das oito (ou antes, quando consigo), regresso uma hora e pouco depois e arrancamos para a praia. À beira-mar não resisto a uma caminhada que por vezes se transforma na segunda corrida do dia. Pelo puro prazer de correr mesmo junto ao mar, de sentir as gotas de água salgada colando-se ao rosto com o vento. Caminhar ou correr numa espécie de hipnose, absorvendo o mar e o vento, o mar e o vento. [Não perceber porque passo tanto tempo longe do mar e do vento.] Entrar pela enésima vez em fantasias de ter uma vida mais livre, mais solta, mais próxima do mar e do vento.

Comida
Evitar os pratos do dia-a-dia, comer o que não é costume ou é raro. Raro para quem, como nós, nunca se dá ao trabalho de efectivamente cozinhar. Lulas recheadas. Favas à algarvia com peixe frito. Feijoada de marisco. Posta de cherne grelhado. Pernil assado. Começar sempre com uma bela sopa. Juliana, feijão, espinafres. (Para mim não cola a ideia de que com calor não se come sopa. Defendo a sopa acima de todos os pratos!).
Pecado: comer folar quente aos pedaços, pelo caminho, e chegar a casa com apenas metade.

Livros
Ou tenho muita sorte ou são as férias que tornam as leituras especialmente boas. Origens, do libanês Amin Maalouf, é o livro que me acompanha ao longo da semana. Caiu-me nas mãos via Calita e fez-me uma companhia tão boa que nem vos digo. Desconhecia a obra e o autor (é para isso que servem os bons blogues), a descoberta foi total, em todos os sentidos. O autor mergulha nas suas origens familiares para nos contar a história aventurosa dos seus antepassados e de um território de difícil apreensão: o Médio-Oriente.
Acabo as mais de 400 páginas e ainda me sobra tempo. Folheio e leio algumas partes de My Age of Anxiety mas na realidade não quero afligir-me. Pego num pequeno livro de poemas de Jorge Luís Borges, Os Conjurados, e leio no prólogo, escrito aos 85 anos (um ano antes da sua morte), “Não se passa um dia que não estejamos, um instante, no paraíso.”

Notícias
Não vejo TV, não consulto o facebook. Não por nenhuma convicção especial mas porque nas férias gosto de cortar com alguns hábitos (tem a ver com alimentação também: não quero mais do mesmo).
Morre o Manoel de Oliveira e apetece-me ler tudo o que sai nos jornais. Na realidade, pouco melhor conheço os seus filmes do que conhecia a poesia de Herberto. Mas sinto-os como uma omnipresença e quando leio que “a voz off do narrador de Vale Abraão” é qualquer coisa de prodigioso ("o que de mais belo ouvimos nos últimos 20 anos"), ouço essa voz, tenho essas imagens comigo. Previsivelmente, fico com muita vontade de ver todos os filmes, colmatar todas as falhas, ler toda a poesia. [Voltar a fantasiar com uma vida livre, solta, com muitos livros, filmes e corridas junto ao mar. Uma sucessão de instantes. Mas quando é que vou crescer? Lá para os 85?]

Como foi a vossa semana? O que contam?

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. Não te iludas, a liberdade é sobrevalorizada. Vai por mim.

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  2. não me convences ok?

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  3. [...] é o quarto livro do libanês Amin Maalouf que leio este ano. O primeiro, Origens, de que falei aqui, chegou-me via Calita (que hoje vai de abalada, boa viagem!). Os restantes vieram de uma caixinha [...]

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