Os leitores falam às Senhoras: Vasco Santos (editor)




Queridas Senhoras,

Vasco Santos é psicanalista e editor. Fundador da editora Fenda (Coimbra, 1979), acaba de regressar à edição com a VS Editor.  É director adjunto da Revista Portuguesa de Psicanálise e formador no Instituto de Psicanálise de Lisboa. Sobre o regresso às lides editoriais, e sobre a vida em geral, há duas entrevistas recentes de leitura recomendada (aqui e aqui). Sobre a graça (no sentido de dom) da VS, leia-se também a crónica de ontem do MEC.



1. O que está a ler neste momento?

Neste momento estou a ler Uma Caneca de Tinta Irlandesa de Flann O'Brien (Cavalo de Ferro). Notável.

2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?

Li Ultimato de Diogo Vaz Pinto (Maldoror) e vou já reler a Poesia Reunida de Manuel de Resende (Cotovia). Livros de um outro mundo.

3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros

Uma recordação recorrente é a de estar a ler o Taras Bubla do Nikolay Gogol, no Verão, na casa alta do meu avô materno. Eu deveria ter 13/14 anos e era muito tímido e refractário ao desporto. Hoje nota-se muito. Enquanto os outros miúdos jogavam eu imaginava, frenético, os cavalos intrépidos dos cossacos. E a neve.

4. Que livros marcaram a sua adolescência?

Muitos livros. Alguns não os deveria ter lido cedo como A Metamorfose do Kafka. Mas foi empolgante ler o Mark Twain (As aventuras de Huckleberry Finn - eu no Mississipi ali no meio do granito! ), a versão simplificada do D. Quixote pelo Aquilino Ribeiro. Sei lá das inumeráveis páginas! Mas, no fim da adolescência, o Herberto Helder foi o grande abalo. Um estampido luxuoso dentro da minha cabeça.

5. Um local público onde goste de ler

Gosto muito de ler em cafés. Ou em comboios. E na cama.

6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)

Falemos de casas ... Não leio muito em casa. Mas gosto de estar em uma mesa com o meu gato Calvin a seguir o meu olhar sobre a página. Parece também estar a ler.

7. Uma biblioteca importante para si

Talvez a Biblioteca Central da Universidade de Coimbra. É muito silenciosa, tem tudo. E tem uma luz antiga.

8. As livrarias que costuma visitar

Por razões amorosas frequentei muito a livraria Leitura no Porto (já falecida). Gostava muito do Fernando Fernandes. Um livreiro excelentíssimo. Em Lisboa frequento a Letra Livre, ali na Calçada do Combro, e a FNAC do Chiado (por inércia) embora, diga-se, tenha colaboradores impecáveis, inteligentes e bonitos para nos atenderem.

9. Uma editora de que goste particularmente

Gosto de muitas editoras. Na região procuro as solitárias, pobres e altíssimas. Por exemplo: a Maldoror, o Homem do Saco, a Pianola, a Língua Morta, a Cotovia, a Averno, a Orfeu Negro, a incrível Flop. A UBU e a Mazza (grande amiga) no Brasil. E, claro, a incontornável Relógio D'Água.

10. Que livros gostaria de reler?

Na minha idade já só relemos. O Maiokovsy. O Pasolini. O Brecht. O Sebald. E a Maria Velho da Costa.

11. Que livros está a guardar para ler na velhice?

Já sou velho. E não fui avisado.

12. Acessórios de leitura que não dispensa

Os óculos.

13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?

Se um livro (ou um filme) não me interessam, e são muitos, ponho imediatamente de parte. Os autores estrelados. Então saio. Não sou masoquista. A cultura não pode ser o desporto da classe média.

14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?

A minha influência é muito francófona. Porém a crítica, em Portugal, com duas excepções, é a miséria. Tenho muitas saudades do Rogério Casanova.

15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade

«Eu não quero dinheiro. Eu só quero ser maravilhosa.» Da Marilyn.






Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. O VS é um anjo quase negro
    quase bom logo imortal.

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  2. "Na minha idade já só relemos." Ai sim? Então já não há mais nada para descobrir? Já leu tudo? Ena, parabéns.

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