Notícias e tangerinas

compassionatecuisine


Foto de compassionatecuisineblog.com


Queridas Senhoras,


esta semana foi a semana das tangerinas. Na quinta-feira, a B. trazia no carro dois sacos cheios delas para distribuir. Que fora o vento dos últimos dias que as deitara todas ao chão, lá na Pampilhosa. Eu fiquei com um saco, a J. ficou com o outro, a M. declinou a oferta porque trouxe tangerinas da casa de família, na Carapinheira. Quando cheguei a casa, o Gonçalo disse que já tinha comido tangerinas nesse dia (alguém levara uma boa dose delas para o escritório de Aveiro) e que, quando estivera em Mira, tinham-lhe dito o mesmo do vento e da necessidade de partilhar as tangeridas tombadas, antes que se estragassem.


Antes que as minhas se estragassem, fui deixar metade a casa da minha vizinha M.


E ontem, quando li o post da Céu sobre o negócio das notícias, pensei que gostaria, sim, senhora, de reflectir e escrever alguma coisa sobre o assunto. Mas, ora, e a minha ideia de vos falar das tangerinas? Hoje acho que, se vamos falar de propagação, cabem as tangerinas e as notícias no mesmo saco. Na primeira história, foi um vendaval e a proximidade do campo à cidade de Coimbra que fez com que andássemos todos a falar de tangerinas.


Na segunda história, são 'shots de e-mail marketing para bases de dados' que determinam aquilo de que andamos todos a falar. Uma grande percentagem de nós, autoras deste blog, trabalha ou trabalhou em media e sabe bem como é que estas coisas funcionam. É uma espécie de corrida em que já não interessa quem vai à frente; o que interessa é não ficar de fora. O assunto pegou? Peguemos no assunto.


Para mim, há dois lados desta questão. Para mim, digamos, como consumidora de informação. Por um lado, assusta-me o afunilamento e procuro fugir dele o mais possível. Selecciono cada vez mais as fontes de informação a que recorro, procurando diversificá-las, escapar à tirania da actualidade. Porque eu gosto de saber, de aprender, de conhecer, de descobrir. E a maior parte do prazer de tudo isso está no processo. Gosto de ir à procura de mais sobre isto ou aquilo, e de descobrir (ou inventar) ligações. É um dos meus passatempos preferidos. Mas tem que dar trabalho e tem que gerar surpresa, senão não tem graça nenhuma.


Por outro lado, naqueles assuntos que é impossível ignorar, lembro-me de uma citação do escritor Harlan Ellison muito usada mas muito pouco posta em prática: 'You are not entitled to your opinion. You are entitled to your informed opinion. No one is entitled to be ignorant.' E é com esta dose de rudeza que me mantenho calada sobre muitos dos assuntos que inflamam os media e as redes sociais dia após dia.


A diferença entre as tangerinas e as notícias (ou as opiniões) é que, das primeiras, quantas mais, melhor.


Bom fim-de-semana!


Marta


PS: Quando eu era novinha, dizia que queria ser jornalista para ser a primeira a saber tudo. E o meu então namorado respondia, 'mas não são os jornalistas os primeiros a saber tudo. Eles só sabem aquilo que interessa a alguém que eles saibam.' Estávamos nos anos 1990.

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