Queridas Senhoras,
quando me inscrevi no mestrado e disse aos meus filhos que ia voltar à escola, a minha filha achou estranhíssimo, disse que eu “não tinha o direito”, que era uma coisa mesmo esquisita. Expliquei-lhe que na escola há sempre gente de todas as idades e nunca é tarde para recomeçar.
Depois disse-lhe que o curso era mesmo muito giro e um dos professores até era um escritor famoso. A partir desse dia, o nome de Rui Zink passou a fazer parte das nossas conversas familiares (ao ponto de o João perguntar se o livro que estávamos a ler era dele. Por acaso era Viagem ao Centro da Terra do Júlio Verne mas o rapaz baralhou tudo).
Pelo caminho expliquei-lhes também que o Rui Zink tinha feito parte de uma série de coisas muito importantes para mim, que marcaram uma época correspondente à minha juventude, ali entre o final da adolescência e o início da idade adulta. Por exemplo, uma certa revista K [1990-1993] de que os avós ainda guardam exemplares e um programa completamente maluco que nos reunia a todos religiosamente em frente à TV, salvo erro às quintas-feiras, chamado Noite da Má Língua [1994-1997]. Expliquei que ele escrevia para adultos e para crianças, escrevia romances e teatro, banda desenhada e romances gráficos, argumentos para cinema e TV. Depois fui-lhes contando como este escritor famoso era também um professor entusiasmante, divertido e espirituoso, sempre com muitas histórias para contar. Disse-lhes como era um grande privilégio voltar à Universidade e ter a oportunidade de conhecer professores assim. E agradeci-lhes por serem tão compreensivos com uma mãe que se ausenta três noites por semana para estudar, o que sem o apoio da família não seria possível.
Acredito que escritores e professores são daquelas pessoas que mais podem influenciar e mudar a vida dos outros, sobretudo em fases de formação e crescimento mas também ao longo de toda a existência. Ora se isto é verdade, um escritor/professor duplica esse poder de influência e capacidade de transformação.
Para a biografia, prémios e bibliografia completa de Rui Zink (n. 1961), podem ver aqui e aqui. De Hotel Lusitano (1987, Publicações Europa-América), Apocalipse Nau (1996, Publicações Europa-América) e O Anibaleitor (2006, Teorema) até A Instalação do Medo (2012, Teodolito) e O Livro Sagrado da Factologia (2017, Teodolito), passando por Dádiva Divina (2004, Dom Quixote) e O Destino Turístico (2008, Teorema), que li recentemente, descobrimos um autor de irresistível humor e ironia. Não uma ironia do cinismo e da frieza, mas uma ironia amável, da redenção e da alegria de viver.
Sem mais delongas, damos então a palavra a Rui Zink, escritor premiado, traduzido e internacionalmente aclamado, ilustre Professor Doutor em Literatura Portuguesa pela Faculdade de Ciências Socais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa:
1. Um livro seu que recomendaria a quem queira iniciar-se na sua obra
O Anibaleitor.
2. Três livros / autores fundamentais na sua existência
José Gomes Ferreira, Ana Hatherly, Italo Calvino.
3. Três livros que todas as crianças/jovens deveriam ler
Astérix e os Jogos Olímpicos, de Goscinny e Uderzo. O Mandarim, de Eça de Queirós. A Mãe, de Máximo Gorki.
4. Um livro sobrestimado, que não merece a fama que tem
Hotel Lusitano.
5. Uma sugestão cultural (filme, peça de teatro, concerto, exposição...)
As Correntes d'Escritas [20 a 24 de Fevereiro], na Póvoa de Varzim, já na 19ª edição. Interdito a falsos leitores e a escritores misantropos. São Bem-vindos todos os que vêm por bem.
6. Um programa e/ ou série de TV
Os Sopranos.
7. Uma livraria e/ ou biblioteca da sua preferência
Tigre de Papel.
8. Uma sugestão de leitura para as Senhoras da Nossa Idade (i.e. dos 35 em diante)
Ruinenlust, de Ricardo Marques (não-edições)
Beijinhos a todas,
Céu
É uma pena que esta série não tenha, no mínimo, dezenas de comentários. Seja como for eu própria não tenho comentado tanto como gostaria. Devia ler isto mais sóbria, talvez.
ResponderEliminarQuerida Calita! Obrigada pelos teus comentários. Julgo que as pessoas se vão desabituando de comentar na página do blogue, concentram tudo no fb. Mas muito obrigada pelo teu estoicismo.
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