Queridas Senhoras,
esta nova rubrica decorre da anterior em que falámos com dez escritores portugueses importantes para nós. Nesse questionário pedíamos a sugestão de uma livraria da sua preferência. É esse o mote que nos leva agora a entabular conversa com alguns livreiros, responsáveis pela existência das chamadas livrarias independentes, lugares de diversidade que fogem à monotonia dos best sellers, dão espaço às pequenas editoras, distinguindo-se também por um atendimento mais informado e personalizado.
O nosso primeiro convidado é responsável pela Leituria, livraria, galeria e espaço cultural, fundada em 2015 na Rua Dona Estefânia, em Lisboa. Vítor Rodrigues é livreiro de profissão desde 1996. Antes de abrir o seu espaço, passou pela Assírio & Alvim (a do cinema King), pelas livrarias Castil (Olivais, Alvalade e Benfica) e ainda pela Bulhosa.
1. Quando e como se tornou livreiro?
Gosto de livros desde sempre, mas tornar-me livreiro, em 1996, foi fruto do acaso, como acontece às vezes com as melhores coisas da vida.
2. Para si, o que é um livreiro?
É alguém que ama os livros, gosta de aprender e não tem ilusões de enriquecer.
3. Como caracteriza a sua livraria?
É um espaço amplo mas acolhedor, onde vemos com bons olhos que as pessoas se sentem no sofá a namorar este ou aquele livro.
Os livros massificados entram a pedido, pois os que abundam na Leituria são os de pequenos editores, às vezes micro; são os livros feitos com amor.
Muitos livros infantis, muita literatura, ciências sociais em geral. E muitos livros em segunda mão, também.
4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?
As livrarias são espaços de socialização e de transmissão de ideias. Quanto mais livrarias há, maior é a diversidade de livros a chegar aos muitos e diversos leitores.
A tendência actual de massificação é perniciosa, mas acredito - ou quero acreditar - que se inverterá num futuro próximo.
5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?
Pessoas de todos os géneros, idades e origens. Do adolescente que procura um livro bom e barato aos viciados em livros, estes em regra mais velhos, passando pelos progenitores recentes.
Há quem só venha à procura de pérolas nos usados, há quem peça o livro da moda. É um público muito variado.
6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?
Muito tem sido (bem) feito, e muito há por fazer. As bibliotecas têm trabalhado com mérito. As livrarias independentes contribuem de forma vital. Os pais continuam a querer que os filhos leiam, e a dar-lhes oportunidades para tal. Por fazer há tanto ou mais: no que toca ao Estado, criar condições para que as livrarias independentes prosperem - não são as que existem hoje: já ninguém enriquece com uma livraria, pelo contrário.
Quanto aos cidadãos, que mais pessoas tenham consciência que apoiam as livrarias do bairro comprando nelas, e não nos supermercados de livros. Ao fazê-lo, contribuem para criar um futuro melhor para si e para os seus filhos.
7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?
Tarefa difícil. Hoje são estes três, amanhã seriam outros:
Moby Dick, de Herman Melville
As cidades invisíveis, de Italo Calvino
Sexo 20, de Santos Fernando
Ao vosso dispor, minhas senhoras,
envio cumprimentos livrescos.
Vítor Rodrigues
[Incluo esta despedida porque acho muito bonita e até literária.]
Beijinhos a todas,
Céu
Parabéns pelo blog!
ResponderEliminarSou fã! desta livraria e de outras semelhantes...esta especialmente é muito preciosa para mim....está ao pé de casa, tem imensas actividades que envolvem pessoas que gostam de ler e participar ...tem livros muito interessantes e o Vitor é excelente a arranjar livros que não tem mas que nós precisamos...já só compro livros e outras coisas....há imenso artesanato muito interessante...na Leituria.... Parabens Vitor!
ResponderEliminarMuito obrigado Isabel, até breve, espero! Vítor Rodrigues
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