Os livreiros falam às Senhoras: José Ribeiro (Ulmeiro)



Queridas Senhoras,

há poucas semanas, nas minhas deambulações, entrei na Ulmeiro, livraria histórica de Benfica, fundada em 1969, que esteve para fechar em 2016. A comoção gerada pelas notícias do encerramento, como sempre acontece quando se anuncia o desaparecimento de uma velha livraria, cinema ou teatro (mesmo que tenham passado anos desde a última vez que visitámos esses lugares), permitiu manter as portas abertas. Foi assim que me achei, numa tarde ensolarada de Fevereiro, a transpor a porta do nº 13 A da Avenida do Uruguai, entre fascinada e receosa perante o pequeno caos instalado no interior da livraria com perto de meio século.

Não é preciso pesquisar muito para descobrir quem é José Antunes Ribeiro, livreiro, editor e autor. Basta dizer que a sua história conta mais de 50 anos de convívio com livros, escritores e leitores. Sorte a nossa ter este Senhor hoje aqui à conversa connosco. E não é que tudo começou com a criação de uma livraria na minha terra? Ora leiam.


1. Quando e como se tornou livreiro?

Comecei há cerca de 50 anos na Livraria Obelisco, na Reboleira-Amadora, um ano depois nasce a Ulmeiro em Dezembro de 1969. Tornei-me livreiro e editor por amor aos livros e à difusão da leitura e à liberdade de expressão do pensamento e pelo debate de ideias contra a censura do regime salazarento.

2. Para si, o que é um livreiro?

Um livreiro é alguém que tem de ser um bom leitor antes de tudo, tem de ter alguma cultura e sabendo que é uma profissão para empobrecer alegremente. É alguém que acredita que um mundo sem livros seria um mundo muito mais pobre.

3. Como caracteriza a sua livraria?

A livraria Ulmeiro nas suas muitas metamorfoses sempre se interessou por todos os livros com algumas áreas preferenciais: ciências humanas, infanto-juvenil, poesia, romance, teatro, artes, dicionários e obras de referência, livros de bolso, livros técnicos, etc.

4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?

Falo da nossa experiência no bairro de Benfica. Desde o início que assumimos um papel activo na difusão do livro ao serviço da liberdade de expressão, procurando iniciativas culturais com interesse para a população onde nos inserimos com cinema para crianças aos sábados de manhã, sessões de poesia e música, tertúlias, lançamento de livros, etc.

5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?

Os que procuram livros de apoio para estudos diversos, temas portugueses, poesia portuguesa, romance, com destaque para as senhoras que suplantam claramente os homens nos índices de leitura. E ao contrário do que se diz por aí temos cada vez mais jovens a frequentar a livraria.

6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

Professores que incentivem a leitura desde a escola primária e que, de preferência, também gostem de ler, uma rede de bibliotecas públicas, municipais e escolares, uma rede de livrarias independentes nos bairros, nas vilas e nas cidades, a presença de livros e autores nos media ocupando, pelo menos, 3% do tempo dedicado ao futebol.

7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?

MONTEDEMO, Hélia Correia, A MORTE DE VIRGÍLIO, Hermann Broch, DESPEÇO-ME DA TERRA DA ALEGRIA, Ruy Belo.




Beijinhos a todas,

Céu


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