E viva o Verão

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Queridas Senhoras,

gosto muito dos textos do À Paisana. Divirto-me genuinamente (a ponto de rir à gargalhada) com os relatos e as análises bem-humoradas deste pai de dois filhos pequenos. E ainda me divirto mais porque agora é só gozar o prato. Os meus filhos já não são bebés e isso faz toda a diferença.

Vem isto a propósito da última crónica, uma “encomenda” do Lifecooler sobre a chegada do Verão. Aquela altura do ano em que apetece tudo, depois de um dia de trabalho, menos vir para casa enfiar colheres de sopa e garfadas de peixe cozido esmagado com batata e cenoura nas bocas de crianças choronas. Alguém comentava, no meu facebook, qualquer coisa do género “quiseram ter filhos? Então não se queixem de não terem vida.”

Mas não é bem assim. Estou totalmente solidária com o André e com todos os pais de filhos pequenos. Força! A comida esmagada há-de passar e não tarda está a família toda na esplanada a beber imperiais (pronto, imperiais e compal).

Cuidar de bebés é uma trabalheira e, a maior parte do tempo, uma seca. Mas é um investimento seguro e de retorno relativamente rápido. Em menos de nada tornam-se gente com quem se pode ir jantar fora e ter uma conversa decente. É ridículo pôr as coisas nestes termos mas não faz sentido pensar que depois de termos filhos, “deixamos de ter vida”. Não ficamos com menos opções mas sim com mais! Tanto posso combinar um jantar com amigas (ok, de seis em seis meses e isto quando conseguimos acertar agendas) como uma noite de cinema em casa com os miúdos.

Quando saio do trabalho, costumo passar ao pé da Universidade Nova e não são raras as vezes que sinto uma pontinha de inveja daquela malta que está por ali (“a roçar o cu pelas paredes”, diria a minha mãe) a beber cervejas e a combinar onde é que vão a seguir. Mas, se aprofundar um pouco esse sentimento, vejo que é superficial, mais um reflexo pavloviano do que outra coisa.

Quando calha estar sem os miúdos a minha vida não é assim tão extraordinária. Não uso esse tempo para fazer mil coisas que supostamente eles me impedem de fazer. E a verdade é que muitas vezes sou mais improdutiva. Já aconteceu, nessas situações, perceber que não fiz a ponta de um corno. Não arrumei a casa, não saí, não fui ao cinema, não li, não escrevi.

Ontem saí tarde do trabalho depois de uma semana longa (aliás, já quase dois meses de muito trabalho por causa de um projecto especial). Se os miúdos fossem pequenos e tivesse que vir para casa obrigá-los a engolir a sopa tinha apanhado uma neura daquelas. Mas a verdade é que agora que eles são crescidos podemos relaxar e, por vezes, até agir como solteiros irresponsáveis que não se preocupam com o que há no frigorífico (iogurtes e cerveja são os mínimos). Não há sopa? Paciência! O João governa-se muito bem com bananas e pão com manteiga. E atum.

Ontem saí tarde. Eles foram andando para a esplanada à minha espera. Jantámos bifanas e sardinhas num arraial de bairro ao cair da noite. E não trocaria isso por nenhum sunset no bar-terraço mais espectacular de Lisboa.

Beijinhos a todas,

Céu

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