Os leitores falam às Senhoras: Tânia Ganho (tradutora e escritora)


Imagem:  © Fernando Dinis

Queridas Senhoras,

a nossa convidada de hoje é tradutora literária e escritora. Nascida em Coimbra em 1973, Tânia Ganho é tradutora de autores como Maya Angelou, Siri Hustvedt, Rebecca Solnit, John Banville, David Lodge, Ali Smith, Rachel Cusk, Chimamanda Ngozi Adichie, Romain Puértolas, Anaïs Nin, Mathias Malzieu, entre muitos outros. É autora dos romances A Vida Sem Ti (Oficina do Livro, 2005), A Lucidez do Amor (Porto Editora, 2010) e A Mulher-Casa (Porto Editora, 2012). Tem contos publicados nas revistas Egoísta e Portefólio.


1. O que está a ler neste momento?

Costumo ler vários livros ao mesmo tempo… Neste momento: The Husband’s Secret (O segredo do meu marido, edição portuguesa da Asa), de Liane Moriarty, porque gostei muito do Big Little Lies (Pequenas grandes mentiras, Asa) e, quando encontro um autor que me desperta o interesse, tento ler todas as obras que estão para trás; Niketche - Uma história de poligamia, de Paulina Chiziane, e Luuanda, de José Luandino Vieira, porque estou a traduzir A cor púrpura, de Alice Walker, e estes livros servem-me de inspiração; Chaos sur la toile, de Kristin Marja Baldursdottir, porque ando a fazer pesquisa sobre pintura para o meu próximo romance.

2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?

Antes, li: Her Body and Other Parties, de Carmen Maria Machado, um livro perturbador e muito original, que traduzi para a Alfaguara e que sairá, em breve, com o título O corpo dela e outras partes; Diary of a Mad Housewife, de Sue Kaufman, um livro que adoraria traduzir e que tem um sentido de humor muito próprio, muito inteligente; La Revenue, de Donatella di Pietrantonio, porque me pediram para fazer um relatório de leitura; O Livro do Desassossego, porque, no início de Junho, participei numa tertúlia sobre Fernando Pessoa e qualquer pretexto para reler Pessoa é bem-vindo.
A seguir, vou ler: The Female Persuasion, de Meg Worlitzer, que é uma autora de quem já li uma série de títulos (Os Interessantes é um livro extraordinário) e Darkness Visible, de William Styron, um relato autobiográfico sobre a depressão.

3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros

A biblioteca de uma das minhas tias no Funchal: uma parede enorme forrada de estantes brancas, recheadas de livros que eu passava tardes inteiras, no Verão, a folhear e a ler.

4. Que livros marcaram a sua adolescência?

Os livros de Anais Nin, Henry Miller, Marguerite Duras, Milan Kundera, Stefan Zweig, Álvaro de Campos, Irene Lisboa, Dostoievski, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez, Isabel Allende, Guillermo Cabrera Infante.

5. Um local público onde goste de ler

Em todas as filas de supermercado, CTT e Loja do Cidadão. Na praia. Em comboios. Aeroportos. Consultórios médicos.

6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)

A cama. A mesa da cozinha. O sofá da sala.

7. Uma biblioteca importante para si

A Biblioteca Nacional, onde passo horas a procurar citações que surgem nos livros que traduzo. Adoro a sala de leitura com o tecto altíssimo, o silêncio de quem lê, os passos que ecoam, o arrastar de uma cadeira, os aviões a aterrar.

8. As livrarias que costuma visitar

A que frequento com mais assiduidade: a Bertrand do antigo Dolce Vita, em Coimbra, porque me sinto muito bem naquele espaço.

9. Uma editora de que goste particularmente

A Dom Quixote, a Alfaguara, a Antígona, a Quetzal, porque já traduzi livros maravilhosos para estas editoras. A Edicare, porque os livros que tenho traduzido são pequenas jóias. A Relógio D’Água, pelo catálogo. A Sibila, pelos seus princípios. Todas as editoras independentes e/ou de poesia, pela coragem de serem livres.

10. Que livros gostaria de reler?

Toda a obra de Virginia Woolf. Raul Brandão. Edith Wharton. Graham Greene.

11. Que livros está a guardar para ler na velhice?

Todos os que não tenho tempo para ler actualmente. E muito antes da velhice, quero ler a obra completa de Maria Judite de Carvalho, que está a ser reeditada pela Minotauro.

12. Acessórios de leitura que não dispensa

O livro em papel (não suporto ler em ecrãs) e uma caneta para sublinhar.

13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?

Ponho de lado. Ou leio na diagonal. O tempo é tão precioso que desisti de ler livros que não me cativem desde o início. Mas, até aos trinta e poucos anos, era incapaz de desistir de um livro, como se isso fosse uma falta de respeito para com o autor ou com o texto.

14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?

Leio muitos artigos online sobre livros (no The Guardian, por exemplo, e em lithub.com)

15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade

“As mulheres têm servido, durante todos estes séculos, como espelhos que possuem o poder mágico e delicioso de reflectir a figura do homem com o dobro do seu tamanho natural. Sem esse poder, provavelmente a terra ainda seria só pântanos e selva.” (Virginia Woolf, A Room of One’s Own)






Beijinhos a todas,

Céu

Comentários