Queridas Senhoras,
no passado 25 de Abril, dois alentejanos desciam a Avenida da Liberdade (não é uma anedota) e um dizia para o outro: “Eles agora nã lhes chamam trabalhadores. São colaboradores.” Amanhã é 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, há várias acções previstas, nomeadamente de colaboradores precários de diversas empresas.
Colaborador é uma palavra que sugere modernidade, partilha, empresas inovadoras, criativas e flexíveis, o que muitas vezes mascara condições de trabalho indignas, falta de segurança e ausência de garantias mínimas. Não é o que se passa n’ O Círculo, nome da empresa que dá título ao filme de James Pondsolt, baseado num romance de Dave Eggers.
N’ O Círculo, empresa que detém o TruYou, uma espécie de Facebook ainda mais esmagador, os funcionários trabalham e vivem num enorme campus onde têm tudo à disposição. Existe uma programação variada de actividades e eventos (a participação é voluntária mas não aderir é considerado rude e pouco ‘social’). As Sextas-Feiras de Sonho são ocasiões especiais de comunhão e partilha. Sharing is caring, é o mantra repetido com fervor.
A fusão entre trabalho e vida pessoal é quase total. Aliás, o que se preconiza é uma vida única em que as noções de público, privado e secreto se unem para formar um único perfil com toda a informação possível sobre cada cidadão.
Próximo da distopia mas muito perto da nossa realidade, o filme relata a chegada de uma jovem à empresa, Mae Holland (Emma Watson) que começa por se deslumbrar por estar no centro do mundo, manobrado por um guru inspirador à imagem de Steve Jobs (Tom Hanks excelente a encarnar esse papel), mas que rapidamente se vê enredada numa sobrexposição da sua vida e da sua família. Transparência é a palavra bonita e perigosa que caracteriza a filosofia da corporação e a visão global que defendem.
O Círculo não é um grande filme (surpresa) mas aborda várias questões sobre a forma como estamos a viver, a trabalhar, a ser monitorizados, vigiados e governados agora. É absolutamente um filme do nosso tempo, muito pouco futurista.
Beijinhos a todas,
Céu
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