Os leitores falam às Senhoras: Pedro Martins Barata (economista, ecologista, flautista)


Queridas Senhoras,

hoje dou a palavra ao leitor Pedro Martins Barata. Ele não o diz, mas digo eu que se há pessoas capazes de salvar o nosso planeta, o Pedro é uma delas. Conheci-o, e à sua adorável família, na praia, nalguns verões em que o nosso calendário coincidiu e estávamos todos no mesmo cantinho à beira-mar, na mesma altura.
Desde então que acompanho o seu trabalho à distância mas suficientemente de perto para, quando ele salvar o planeta, me poder gabar de o conhecer:

«Sou economista de formação, desde há muito a tentar encontrar formas de por a economia e a sociedade a confrontar-se com o maior problema global: as alterações climáticas. Fiz parte de múltiplas delegações às conferências internacionais sobre alterações climáticas. Acredito profundamente na Europa, no entendimento entre povos e culturas e desde muito cedo estudei e trabalhei com amigos e colegas de todo o mundo. De caminho, joguei ténis, mas mal. Fiz teatro um bocadinho melhor. E quando decidi deixar de fumar, ofereci-me uma flauta transversal que se tornou na minha segunda paixão. Tanto me devo ter apaixonado pela flauta que após oito anos na minha escola em Lisboa, decidi aceitar o desafio de presidir à direcção administrativa dessa mesma escola, centenária - a Academia de Amadores de Música. E assim de negociador internacional em alterações climáticas passei em poucos meses a acumular com director de escola, salvo seja. E agora alguém me pede para responder a um questionário sobre leituras. Terei feito alguma coisa bem?»

1. O que está a ler neste momento?

Vários livros ao mesmo tempo. Estou sensivelmente a meio d’ “A Montanha Mágica” de Thomas Mann. Em paralelo, para não ser tudo demasiado pesado, “Single & Single” de John LeCarré. Acabei de ler há mesmo muito pouco tempo um livro excepcional “The Man Who Mistook His Wife for a Hat”, do neurocientista Oliver Sacks. Recomendo vivamente.

2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?

Nos últimos tempos tenho lido livros sobre o tema do sentimento de fin de siécle em que estamos: as memórias de Stefan Zweig, em que ele relata o final do mundo novecentista da Viena efervescente e cosmopolita e a progressiva e rápida degradação da vida pública. Li também recentemente a biografia de Bach por um dos grandes maestros do nosso tempo, John Eliot Gardiner. Antes tinha lido os “monólogos da vagina” de Eve Ensler. Um livro poderosíssimo e que eu recomendaria a quem tiver uma mente aberta e queira perceber realmente as raízes do movimento #MeToo e da recente e tardia movimentação do feminismo mundial. Li ainda a tetralogia da “Amiga Genial” de Elena Ferrante. Bonito, mas menos interessante do que eu presumia inicialmente.

3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros

É fácil. Estou perdidamente à procura de uma edição antiga de um clássico de Monteiro Lobato. “Emília no País da Gramática”. Lembro-me perfeitamente de o ler de uma assentada, maravilhado com as ilustrações e com a história de uma boneca de trapos a visitar com o amigo Quindim, o rinoceronte, as cidades da língua portuguesa e da língua inglesa, a entrar no bairro dos Arcaísmos e dos Neologismos. Monteiro Lobato fazia a gramática parecer divertido!

4. Que livros marcaram a sua adolescência?

Sem dúvida alguma, os “Cinco” e os “Sete” da Enid Blyton. Devorei-os juntamente com o meu colega Mário ainda na escola primária. Depois, já no liceu, tinha um predilecção pelos clássicos. Muito rapidamente comecei a ler em inglês e devorei muita Agatha Christie, mas também as peças do George Bernard Shaw, o nosso Gil Vicente. No Verão, em casa do meu tio, papei a colecção dos clássicos RTP, enquanto em casa da minha avó comprei paulatinamente a minha colecção de Júlio Verne, sendo que Miguel Strogoff continua a ser uma das minhas referências de herói literário.

5. Um local público onde goste de ler

Em qualquer lado, mas em particular na praia, apesar do incómodo do vento e da areia. Acho que tem a ver sobretudo com a minha disponibilidade mental para a leitura que aumenta extraordinariamente no Verão, sobretudo quando me imponho não pegar em qualquer tipo de trabalho ou tarefa que não seja cozinhar ou ler.

6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)

A cama ou o sofá em frente à TV (com esta ligada no Mezzo).

7. Uma biblioteca importante para si

Do ponto de vista estético, a Joanina da Universidade de Coimbra. Do ponto de vista da minha história pessoal, nunca frequentei muito bibliotecas, mas numa passagem por um colégio em Itália onde estudei durante dois anos, estive muitas horas seguidas em estudo intenso nesse espaço.

8. As livrarias que costuma visitar

A Livraria Bertrand no Chiado e a Almedina no Saldanha são as preferidas em Lisboa. Diria a Lello no Porto mas desde que se “turistificou” perdeu algum charme. Em Paris, e dada a minha anglofilia, adoro a Shakespeare &Co. provavelmente a melhor livraria inglesa fora de Londres (diria mesmo melhor que as melhores de Londres). Por último, em Londres, a Foyles é um caso excepcional. Infelizmente também ela não resistiu ao avanço das grandes livrarias comerciais como a Waterstone’s e a Borders.

9. Uma editora de que goste particularmente

A Assírio e Alvim, em Portugal. A Folio em França.

10. Que livros gostaria de reler?

Guerra e Paz, de Tolstoi. Já reli duas vezes e é um livro que gosto de reler periodicamente ao longo da minha vida. Encontro sempre novos temas e ângulos nos personagens.

11. Que livros está a guardar para ler na velhice?

Nenhum. Mas estou a tentar ler o “Ulysses” de James Joyce no original há já alguns anos. Talvez na velhice… “Os Maias” - não estava em Portugal no final do secundário, não fui obrigado a lê-lo e sinto-me desfalcado.

12. Acessórios de leitura que não dispensa

A leitura dispensa acessórios. A visão, essa, já não dispensa óculos de leitura.

13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?

Põe-se de lado, toma-se outro no seu lugar e volta-se a namorá-lo mais tarde. Com sorte, ele acaba por nos seduzir.

14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?

Raramente. Ocasionalmente a revista Ler. Mais raramente as críticas literárias do NY Book Review ou da Amazon.

15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade

“Come, your answer in broken music; for thy voice is
music and thy English broken; therefore, queen of
all, Katharine, break thy mind to me in broken
English; wilt thou have me?”
, Henrique V, última cena.



Beijinhos a todas,

Marta

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