Foto: Restos de Colecção (https://restosdecoleccao.blogspot.com)
Queridas Senhoras,
ainda não voltei ao cinema nem ao teatro, mas as salas reabriram e parece que os espectadores têm comparecido. Está também aí o Festival de Teatro de Almada, não em versão online mas nos palcos, em carne, osso e suor.
A crónica que se segue foi escrita no âmbito do curso de Arte da Crónica antes da reabertura das salas de espectáculos, mas fala de um tempo anterior, o das salas de cinema que foram desaparecendo. É uma tristeza menor face a tudo o que agora vivemos, em que nada é seguro e não sabemos bem o que vai restar. Recordar um tempo em que o encerramento de uma sala de cinema alimentava crónicas nostálgicas durante semanas é quase ridículo. Quase.
É só cinema
Queres ver que isto vai ser outra crónica nostálgica sobre coisas que já desapareceram?
Ai, deixa-te disso, não há paciência.
Todos os cinemas que eu frequentava fecharam.
E depois? É da natureza das coisas, os que havia antes desses também fecharam, e outros mais antigos também.
Mas agora é mais bonito, queres ver? Ligas-te à Netflix, emborcas horas de séries e filmes, e depois comentas nas redes sociais. Que charme.
O primeiro filme de adultos que vi foi Kramer contra Kramer no Cine-Plaza da Amadora, também chamado «O Piolho». Procura no Google, vai ao «Amadora Desaparecida». A nostalgia é uma trend sempre em alta. Descansa, não vou agora desfiar os filmes e as salas daí em diante. Não tenho esse tipo de memória nem guardei registos. Antes dos 30, deitei fora uma caixa de bilhetes de cinema usados.
Os filmes mais intelectuais eram no Quarteto, claro. Rua Flores de Lima, lado direito de quem sobe a Estados Unidos da América. Mas para pormenores vai ao «Restos de Colecção», está lá tudo. «Cinemas de Lisboa (1896-2011)». É claro que não frequentei muitos deles, só comecei a ir ao cinema como gente grande no final dos anos 80. Não víamos só filmes de autor, longe disso. O nosso cinema para filmes "normais" era o Fonte Nova. Mais tarde, o Twin Towers, durante uns anos. Centros comerciais maneirinhos, três salas, nada de Colombos. O outro cinema para malta de óculos de massa era o King e incluía sempre uma visita à livraria Assírio & Alvim na cave. Av. Frei Miguel Contreiras, a meio da Av. Roma, à esquerda, sentido Praça de Londres. Cinema com livraria, imagina o luxo. #Unidos pelo presente e futuro da cultura em Portugal.
Nos meus tempos de estudante universitária e jovem adulta também frequentei muito a Cinemateca, antes e depois das obras de renovação. Barata Salgueiro, lado esquerdo de quem sobe a Avenida, a chegar ao Marquês. Agarrava sempre as famosas folhas de sala do João Bénard da Costa, mas não guardei nem uma, devem ter ido fora com os bilhetes.
Ultimamente, íamos bastante ao Monumental, mas fechou o ano passado. Praça Duque de Saldanha. Ainda vou ao Nimas, de vez em quando, em geral sozinha. Cinco de Outubro, lado direito de quem desce para Entrecampos. E aos festivais no São Jorge onde ainda encontro a dita magia do cinema. Avenida da Liberdade, lado esquerdo de quem sobe. O tipo de magia que faz as personagens saírem da tela, como em Rosa Púrpura do Cairo ou, pelo menos, os espectadores quererem entrar.
Oh, lá estás tu! Não faças filmes. É só cinema.
Maio de 2020
Adoro cinema! Ver séries assim de uma só vez não me cativa .... Ainda sou do tempo de ver telenovelas brasileiras, ver o resumo dos próximos episódios e ficar super curiosa... esperar até segunda para ver mais um episódio 😂
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