Ansiosamente normal

Queridas Senhoras,

nos primeiros episódios de Pessoas Normais (AMC, sábados) Connell e Marianne estão a acabar o liceu. Ele é um rapaz discreto mas popular, bom desportista, idolatrado pelo seu grupo de amigos. Ela é a estranha da escola, vítima de bullying constante. Haverá coisa pior na adolescência do que sentir o riso dos outros nas nossas costas? Se leram o livro ou viram a série, ou conhecem a história, sabem que o enredo acompanha a relação de Connell e Marianne ao longo de vários anos, desde o final da adolescência até jovens adultos. Os primeiros episódios mostram essa fase inicial em que os dois mantêm uma relação intensa e secreta. Com Marianne, Connell consegue ser algo parecido com ele próprio. Com os amigos limita-se a ir na onda, sem se comprometer. «Tu nunca dás opinião sobre nada», diz-lhe Marianne. Na escola, fingem que não se conhecem. É mais fácil. Apesar de ter muito pouco em comum com os amigos, Connell prefere não arriscar essa posição confortável a assumir a relação com a esquisita Marianne. Ele não consegue fazer a coisa certa, simples, boa.

Ansiedade social. Medo. Desconforto. Parece que não há outra tema. Porque nos preocupamos tanto em corresponder a expectativas, porque queremos tanto estar integrados, mesmo que isso signifique trair os nossos princípios? Porque é tão importante parecer normal, se ninguém é normal? Compreendo que na adolescência a coisa mais importante seja ser aceite, que por vezes moldemos a nossa personalidade de forma a agradarmos ao grupo. Mas porque arrastamos esse medo para a idade adulta? 

No n.º 3 da revista Mamute, publicação dedicada a ensaios autobiográficos, leio um texto duríssimo que remete para o mesmo tema: «Um Penso-Rápido sobre o Abismo», de João Silveira, uma história de dependência e sobrevivência.

Hoje vi Mais Uma Rodada (TVCine Top), filme galardoado nos Óscares, sobre um grupo de amigos, professores de meia-idade, que decide experimentar a alcoolemia como forma de vencer a ansiedade social e conquistar o sucesso profissional e pessoal.

Em tantas histórias, reais e ficcionais, sempre a mesma toada, o mesmo ruído de fundo. O que queres? Sabes ao menos quem és? Não vales nada.

Até para a semana,

Céu

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