Caixas

Querida Mariana,

nunca te aconteceu? Recebes uma caixa de bombons e ficas encantada com a caixa, é linda, as cores alegram-te, inspiram-te, modificam-te de alguma forma. E os bombons, deuses, são deliciosos, todos diferentes, vais saboreando mais ou menos lentamente, dependendo da tua disciplina, mas a gostar cada vez mais. Sentes que os teus dias ficam melhores depois de um bombom daquela caixa.

 
Cx

A caixa, em si, é tão bonita que queres guardá-la mesmo depois de terem acabado os bombons. Tens pena de terem acabado as doçuras, claro, recorda-las com saudade, mas para compensar dás novos usos ao espaço vazio. Enche-lo com coisas tuas, jóias, saquetas de chá, flores secas. Vais eliminando o vazio com coisas tuas e a caixa vai-te parecendo cada vez mais cheia.

Entretanto, escolhes um lugar de destaque para ela na tua casa. Tentas vários, o parapeito da janela, a lareira, a prateleira dos livros de culinária, mas nenhum parece o correto. Então percebes que tens que mudar algumas coisas na tua casa para que a caixa se encaixe nela. Não faz mal nenhum, claro, mudar para melhor é sempre bom, e a caixa é tão bonita, tem umas cores tão originais, que a tua casa só terá a ganhar com isso. Compras novos cortinados, pintas uma parede, cobres o sofá com uma colcha, acrescentas almofadas. É um processo longo e difícil, mas vale a pena por aqueles momentos em que parece mesmo que tudo está perfeito. Depois vêm outros momentos em que as coisas não estão tão harmoniosas e, com eles, mais almofadas, quadros, outra parede pintada. Tentas sempre.

Até que vem o dia em que abres a caixa. Já não a abrias há uma eternidade, habituaste-te à sua presença como elemento integrante e determinante da decoração da tua casa, tanto que até te esqueceste do quão delicioso era o seu conteúdo original. Abres a caixa na esperança de encontrar ainda um bombom esquecido. Nada. Só as tuas jóias, ou saquetas de chá, ou flores secas. Tentas mais tarde. Nada. Tiras as tuas jóias, afinal ali não estão muito seguras. Tentas outra vez. Nada. Tiras as saquetas de chá, se calhar já passou o prazo de validade. Tentas novamente. nada. Tiras as flores secas, já estão a desfazer-se. Limpas a caixa.

Passado todo este tempo, vês a caixa de forma diferente. Já não tem nada para te dar, também não é adequada a nenhuma das coisas que procuraste dar-lhe, dá trabalho limpar-lhe o pó, já nem gostas assim tanto daquelas cores. E assumir isso? É que não basta deitar a caixa fora, há uma casa inteira decorada à sua imagem. O que fazer? Adias. Até ao dia em que, ao limpares o pó à caixa, deixa-la cair e partes o vidro de uma moldura que adoras. Chega. Já bem basta a caixa não te dar nada, a não ser trabalho, não acomodar bem nada do que lhe dás, obrigar-te a mudar tudo à sua volta para que ela se integre, quanto mais agora estragar as coisas de que mais gostas. A caixa vai para o lixo.

Fica a casa inteira a lembrar-te dela, claro. Aos poucos, podes ir trocando as almofadas, um dia podes voltar a pintar as paredes, para o ano talvez compres cortinados novos. Ficará sempre um rastro. Mas podes decidir que queres que fique, porque, às vezes, sabe-te bem recordar os deliciosos bombons de chocolate.

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Comentários

  1. um dia falar-vos-ei das "minhas caixas", queridas senhoras! Amei o post Ana Marta! beijinhos para as duas!

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  2. Querida Prima,Antes de mais Parabéns às duas pelo Blog! Já ando há imenso tempo para vos escrever, mas o tempo....Quanto a este post veio em forma de seta, como não poderia deixar de ser, eu também tenho uma caixa destas (hehe) mas a minha é uma matrioska, tem duas mais pequeninas lá dentro, o que me faz pensar mais nos chocolates do que na decoração..... beijos grandes

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  3. Ana Marta Ramos18/01/11, 14:51

    Querida prima, querida senhora da nossa idade,bem-vinda. Muito do que aqui se escreve é para ti, de uma forma geral, às vezes, outras de maneira bem particular :) Espero que continues a fazer-nos companhia, e espero que possamos contribuir com algo de positivo para os teus dias. À falta de melhor ajuda, dada a distância... beijos grandes, espero que até muito breve.

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  4. Olá Marti, já li e reli... impressionante como tudo o que escreveste se aplica a tantas coisas da nossa vida...

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  5. Ana Marta Ramos28/01/11, 22:58

    Olá Vanessa! Ui, as caixas das nossas vidas... :) Beijos grandes, minha querida.

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