Desabafo

Ninguém diz a um marceneiro que quem faz duas mesas faz três, não custa nada, logo, não se paga mais por isso; ninguém diz a um mecânico que não, senhor, não lhe pagamos 25 euros à hora, pagamos-lhe metade porque o senhor faz isso por gosto; ninguém diz a uma empregada de limpeza que vai passar a receber menos porque ninguém repara se os lençóis estão ou não bem passados.



Escrever

A todos os que dizem que escrever é um dom, logo, não custa nada;


que se faz por gosto, logo, até devia ser voluntário;


que lá porque está muito bem feito não quer dizer que mereça ser muito bem pago porque ninguém lê,


eu digo:


ignorantes.

Comentários

  1. Só que cada vez é mais difícil lutar contra esses ignorantes....

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  2. Mariana Ramalho Ortigao05/04/11, 22:16

    Never surrender!!Sent from my iPhone

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  3. Querida Ana Marta, queridas senhoras, Junto o meu ao teu desabafo. O valor da palavra é incalculável. E escrever é, de facto, um dom. Um dom que não se encontra com tanta facilidade quanto seria de se supôr... todos os dias nos escandalizamos com tantos atropelos à Lingua Portuguesa, maltratada por quem a devia defender. Não são as Licenciaturas, Pós-Graduações, Mestrados, Doutoramentos ... e outras especializações, uma garantia de falar e escrever um bom português. Aliás, actualmente, parece que não são garantia de quase nada. Triste País este! Um País que quase aboliu o ensino da gramática, que adoptou acordos discutíveis porque é mais fácil, que promoveu o uso da tecnologia (louvável, mas ... ) antes de se saber pegar no diccionário e no prontuário, que desvaloriza a função do Professor, que desinveste na Cultura, que despreza a livre ideia, formatando a informação à lógica implacável dos interesses económicos e políticos ... e outros ... Um País que impõe a uma família de classe média manuais escolares a um preço de mais de 300€ ,quando regulamenta o salário mínimo em 485€ e note-se! na escolaridade obrigatória. Um País que vicia os dados da sua própria existência.Um País que tem falta de quase tudo, excepto de tecnocratas, de burocratas e de sociopatas que nos comprometem o futuro! Um País que não respeita os seus valores humanos e os subjuga à exploração e à precaridedade agiota, que se aproveita, com um oportunismo indecoroso, da necessidade alheia. Por tudo isto e pela vergonha e repulsa que sinto, de cada vez que vejo um número crescente de analfabetos pavonearem-se pelos corredores corrompidos do poder, submetendo a educação e a cultura deste País ao estatuto de ratos de laboratório, ao serviço de interesses cada vez mais obscuros ... lamento pelo meu País. Lamento pelos meus filhos, pelos meus amigos, por mim mesma ... por ti, Ana Marta. Quero acreditar que um dia será diferente ... mas até lá, confesso, tenho dias em que me deixo ir, neste desabafo, contigo.Pat

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