Queridas Senhoras, chegada hoje das mini-férias, ainda meio atordoada pela rapidez com que tudo se passa (viagem para Lisboa de manhã, regresso ao trabalho da parte da tarde), quando chego a casa ao final do dia, já a avó Nanda (ainda mais a mil do que eu) tinha ido matar saudades da Alice e do João e deixado um lindo presente de Abril.
Isto é muito típico da minha mãe: aparecer com a prenda mais bonita, mais bem pensada, mais certa para aquela pessoa, ocasião, contexto.
Haverá melhor ideia do que oferecer à Alice, agora com 6 vivíssimos e vividos anos, pelos alvores de Abril, o livro que conta às crianças a história da Revolução dos Cravos?
Que maravilhoso sentido de oportunidade, Mãe!
É claro que contei a história logo esta noite. O João adormeceu a meio, a Alice ficou com algum medo (mas depois adormeceu instantaneamente).
Fui intercalando a história do livro com apontamentos das nossas vidas.
“Tu já eras nascida, mãe?”
Não, eu estava na barriga da avó Nanda, tudo isto aconteceu em Abril e eu nasci em Julho. A tia Cá ainda não existia.
A avó Nanda tinha 22 anos, era uma menina mas já trabalhava desde os 17. O avô Nino tinha 33 e já tinha estado na guerra, nesta guerra de que o livro fala. Tinha estado na Guiné, um destes países que naquela altura se chamavam colónias. O avô Gomes e a avó Laura estavam há muitos anos noutro desses países, Angola, viviam e trabalhavam lá. O papá nasceu lá, sabias? E nessa altura tinha dois anos (era como o mano agora). Depois do 25 de Abril é que os avós vieram com o papá e com os tios para Portugal. (Ah, o avô Nino e a avó Nanda conheceram-se no Ávila, essa fábrica mítica que deu nome a uma das estradas mais famosas da Grande Lisboa. A 2ª Circular tem a sua importância mas quem é que nunca ouviu na rádio "trânsito lento nos Cabos d´Ávila"? Tens de pedir à avó que te conte histórias do Ávila).
O que é a ditadura? É não podermos falar e dizer e escrever o que pensamos, nos jornais, na televisão, na rua, em todo o lado. O que é a democracia? É quando podemos escolher quem queremos que mande. Lembras-te da avó Nanda falar muitas vezes do Sócrates? Uns gostavam dele, outros não, mas o que importa é que todos podem dizer o que acham, se ele fez bem ou mal, e escolher outros para o lugar dele.
Repara bem: naquele tempo ninguém podia falar mal de quem mandava nem ter opinião sobre nada. Hoje toda a gente pode falar à vontade e muitos escrevem, por exemplo, em blogues sobre tudo e mais alguma coisa. A mamã pode ir já escrever sobre isto que estamos a falar agora e publicar num sítio onde qualquer pessoa pode ler.
A avó Nanda tinha 22 anos. Era uma menina. A ela nunca lhe fizeram mal. Mas fizeram muito mal a muita gente. Por isso as pessoas tinham medo.
O que é a Liberdade?
É frágil, como uma flor.
E o medo é forte.
É por isso que nunca podemos parar de lutar.
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Beijinhos a todas,
Céu
Querida Mariana, tive que republicar este post, alguma coisa não estava bem, por isso o teu coment desapareceu. Por favor, volta a publicá-lo (envio-te por mail caso não tenhas). beijinhos
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