Queridas Senhoras,
a rotina de Outono/Inverno não está verdadeiramente instalada até chegar o dia da primeira corrida matinal à chuva. Foi hoje e na verdade acho que ansiava por esta prova, em jeito de desafio, como quem diz: “ai é? achas que são uns chuviscos da treta, uns trovõezinhos de caracacá que me vão fazer ficar em casa? Olha que eu ainda não estou a 100% mas sou bem capaz de te enfrentar.” Isto sou eu a falar com o Outono.
Portanto lá fui cheia de vontade de ultrapassar esta barreira psicológica, sair outra vez de casa às escuras, impermeável vestido, carapuço bem apertado e toca a andar. Do grupo habitual das madrugadas (seremos mais de 20 em dias bons, entre corredores e caminhantes), cruzei-me apenas com duas almas dispersas, suspeito que a reduzir o circuito habitual para metade. Bah! Que meninos. Nem um metro fiz a menos e cheguei a desejar que a chuva caísse com mais força e os relâmpagos soassem mais alto.”Anda cá! Vamos lá resolver isto de uma vez!”
A dureza deste treino madrugador prepara-me para enfrentar as chatices ao longo do dia e ajuda a relativizar os dissabores. Empurrões no comboio? Guerras furtivas na fila do supermercado quando abre uma caixa nova? Investidas dos automobilistas em fúria sobre poças e peões passando amarelos à tangente? Bah! Meus amigos, eu já corri 6 km debaixo de chuva, isso é tudo o que têm para me aborrecer?
Até porque o maior desafio não está na rua, no comboio, no supermercado ou no escritório. Pior do que correr sobre lama e galhos de árvores é convencer o João a calçar meias e ténis. Ontem escapou mas hoje teve de ser. Convencê-lo sem gritos, com calma, coerência, firmeza e imaginação como mandam os blogues todos e os psicólogos. Deixando que ele perceba as consequências naturais e mais não sei quê. Ah! Ah! Ah! Isto enquanto ele me esfarela o raio do croissant (é a última vez que vos dou estes croissants!) e enche tudo de migalhas.
O incómodo com o calçado é um clássico. Um sub-género no thriller que se desenrola todas as manhãs antes das 8h30. A emoção é constante, a adrenalina dispara sempre que ouço um barulho suspeito. Só quero que os protagonistas se salvem. E saiam de casa a horas.
Felizmente que o instinto feminino da Alice já lhe diz que não há como um par de botas elegantes para acentuar a silhueta e enfrentar o primeiro dia de Outono a sério com um sorriso. As mulheres é que sabem.
Beijinhos a todas,
Céu
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