Este post devia ser sobre a Céu...

... mas como já prevejo que acabe por ser mais sobre mim, vou transformá-lo numa carta à Céu. Então, aqui vai, endereçada a Lagos.

Querida Céu,

este fim de época, esta recta final antes das férias de verão, tem sido verdadeiramente de loucos. Isto sou eu a desculpar-me por não ter escrito um post sobre ti no dia dos teus anos, dos teus 40 anos. Falámos ao telefone e contaste-me que já estavas em Lagos, que nadaste, apesar da água fria, e que usufruíste de uma magnífica massagem na praia. Que maravilha!

Não tanto pela parte da massagem, os teus relatos de Lagos lembram-me sempre Sophia. Tu sabes que ando para escrever sobre ela há algum tempo mas ainda não é desta.

Desta, quero dedicar-te isto:



Nestes últimos dias lançámos (eu e a Susana Esteves Pinto) um site novo, que me devolve um pouco da escrita sobre o melhor do nosso país, num feliz casamento de perspectivas.

Nestes últimos dias preparámos (eu, a Susana Esteves Pinto, a Célia Fernandes e mais algumas pessoas) uma candidatura de um projecto de animação que me obrigou a viver uns dias numa dimensão inexistente, para criá-la, enriquecê-la e, por fim, apaixonar-me por ela.

Neste último fim-de-semana, que eu passei quase todo em frente ao computador, enquanto os rapazes se entretinham sozinhos, o meu filho disse-me, muito sério: «Mãe, eu penso que tu já não gostas de mim». Danado, o miúdo, deu-me cabo da cabeça, embora eu acredite que aquilo já tenha sido dito no passado, pretérito-não-conjugado. Fiz-lhe falta e quando voltei para ele teve de dizer-me, da melhor forma que conseguiu, que eu lhe fiz falta.

E pergunto: terás tu pensado que eu já não gosto de ti? Sabes que gosto muito de ti, não sabes?

Sophia diz, a certa altura, neste filme: «essencialmente, aquilo que eu procurei foi esse espírito de nudez, foi pôr-se em frente de cada coisa como se ela nunca tivesse sido vista, e começar a olhar desde o princípio, como se fosse o primeiro dia do mundo». E vejo-te, Céu, nestas palavras. Vejo-te a mergulhar nas águas frias de Lagos pela enésima vez, repetindo o ritual de todos os anos, e a sentires o frio, o sal, o silêncio, como se nunca tivessem sido sentidos. Aos 40 anos, querida Senhora, continuas experimentando primeiros dias do mundo, e eu continuo à procura de aprender isso contigo.

Hoje recebi a primeira rejeição oficial de uma editora. Muito simpática e compassiva, mas uma rejeição, «por não haver disponibilidade no nosso já muito sobrecarregado plano de edições, que ocupa totalmente as nossas capacidades de produção para os próximos tempos. Creia que lamentamos ter de lhe transmitir uma resposta negativa» e tal e tal.
E sabes que mais? Eu sorri. A minha primeira rejeição!

Tenho a certeza de que um dia poderei contar-te que recebi o meu primeiro sim. Até lá, continua a deslumbrar-te com a vida e a deslumbrar-nos com essa capacidade.

A nós, que tanto gostamos de ti.

Um abraço enorme,

Marta

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