Querid
as Senhoras,
não posso recomendar mais o livro Levante-se o Réu de Rui Cardoso Martins (RCM), a compilação de algumas das melhores crónicas de tribunal que o jornalista registou ao longo dos vários anos em que manteve a rubrica com o mesmo nome no jornal Público.
Lembro-me de ler essas crónicas nos anos 90. Recordo até, curiosamente, a primeira vez que li. Não o texto exacto mas o primeiro contacto com aquele estilo, aquele registo, que desconhecia. Passei a ler aquela página todas as semanas e a admirar o poder de observação e a recriação dos mais mirabolantes casos judiciais no estilo contido (e tão humano) de RCM.
Mas nada nos prepara para o bom que este livro é. Eu conhecia o estilo e o conteúdo, sabia ao que ia, e ainda assim fiquei fascinada. Tenho vindo a lê-lo nas últimas semanas, ao ritmo de duas ou três crónicas por viagem de comboio. Nas deslocações diárias costumo preferir artigos de revistas e jornais. Os livros guardo-os para a noite. Excepto se forem contos, crónicas, fragmentos. Cada um tem as suas manias. O romance ou a novela não encaixam numa viagem de 15 minutos, a coisa não ata nem desata, o mais certo é ter que voltar a ler o que já li. A crónica adapta-se que é uma maravilha e os solavancos até embalam a leitura.
Estas então parecem feitas para ler no comboio. No autocarro, na paragem, na rua, na estrada, na esquina, no centro de saúde, na sala de espera, na farmácia, na fila, na feira. No quotidiano. Porque é de quotidiano que falam estas histórias ainda que muitas sejam sobre dias de excepção. Dias de raiva, medo, desespero, resignação, desistência. E no entanto… a humanidade com que RCM descreve as misérias que vão desfilando perante os juízes é notável. Há alívio humorístico em muitas delas, uma fina ironia, um sopro de comédia que aligeira as feridas.
Humanidade, inteligência, humor. Do melhor que há.
Beijinhos a todas,
Céu
Tens que me emprestar.
ResponderEliminar[...] encontrei muitos pontos em comum entre o Levante-se o Réu, de Rui Cardoso Martins (de que falei aqui) e As Primeiras Coisas, de Bruno Vieira Amaral (n. 1978) que acabei ontem. O livro saiu em 2013, [...]
ResponderEliminar[...] para a Céu e este para o José. E ele para mim, viu a apresentação? Vou dizer o quê? Escrevi um texto sobre o livro anterior e mandei-lho (e ele retorquiu, “que alegria para mim o que [...]
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