Cultura financeira

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Museu do Dinheiro, um local a visitar para tomar o gosto pelo mundo financeiro. Até dá para tocar numa barra de ouro.


Dedicado à Paula, que guarda uma certa mágoa por não ter sido bancária


Queridas Senhoras,

quando comecei a trabalhar em meados dos anos 90 o meu primeiro salário foi de 100 contos. Ena, pensei na altura. Tinha acabado o curso há três meses e já estava a trabalhar, a ganhar cem contos limpos. Vivendo em casa dos pais, o ordenado era especialmente atractivo (atenção, as minhas expectativas não eram altas: tirei uma licenciatura em Relações Internacionais).

Antes de começar a trabalhar, já tinha juntado algum dinheiro por ter frequentado um ou dois daqueles cursos subsidiados pelos fundos europeus. Depois comecei também a fazer traduções por conta própria, para uma pequena empresa que pagava bem (!) e a horas (!). Ganhei algum gosto e interesse pelo dinheiro. Em juntá-lo, em investi-lo, em vê-lo crescer. Tinha uma conta-poupança habitação, usufruía dos benefícios fiscais, comprava certificados de aforro, lia a Dinheiros & Direitos da Deco, informava-me acerca de retenções na fonte e, vá lá, taxas de juro. Foi a minha a época de ouro como “investidora” e aquela em que tive maior cultura financeira.

Pouco a pouco, ou porque a linguagem financeira e bancária se complicou extraordinariamente, ou porque passei a ter outras preocupações e afazeres ou porque deixei de ter capital para “investir”, a minha relação com o mundo das finanças esfriou consideravelmente. Dez ou quinze anos volvidos, eu já não era a mesma e o meu dinheiro também não.

Passei a achar que não tinha sequer que pensar muito nisso uma vez que não é difícil saber que destino dar a mil euros por mês. Não sendo muito consumista ou despesista, pelo lado da despesa não podia ter grande intervenção (excepto fazendo um esforço grande de poupança, abdicando de pequenos prazeres como jantar fora, cinema, teatro e livros). Poderia tentar operar pelo lado da receita, para ter mais margem de manobra. Mas mesmo que houvesse, hoje em dia, trabalho freelance que compensasse em termos monetários, não é fácil encaixar tarefas suplementares, se não quisermos abdicar do nosso tempo familiar, de descanso e lazer. Há 20 anos era capaz de perder horas de sono para acabar uma tradução e ganhar mais uns trocos, hoje não teria a disponibilidade física e mental para isso.

Entretanto, há coisa de cinco anos, a pressão aumentou com a cultura do empreendedorismo. De repente, todos temos que ter jeito para o negócio! Se não temos o sonho (ou melhor o objectivo, que esta filosofia baseia-se em objectivos, metas, targets, planos e o camandro) de ter o nosso estaminé próprio, físico ou virtual, estamos completamente out, vê-se logo que não somos millennials, estamos é velhos e cansados.

[Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.]

Empreendedora nunca serei, sou incapaz de vender um alfinete, mas decidi que tenho que melhorar a minha cultura financeira. A ignorância e o desconhecimento nunca foram bons conselheiros. Curiosamente veem-se imensos blogues pessoais de moda e estilo, cozinha e receitas, mas poucos (parece-me) a partilhar conselhos financeiros. Fazendo uma pesquisa, aparece imensa coisa, claro, mas como separar o trigo do joio? Este pareceu-me interessante mas como saber se não é patrocinado pela banca e pelas seguradoras??

Partilham destas preocupações? Têm alguma recomendação de um blogue ou site a seguir para estar informada e acompanhar a evolução dos (ó senhores!) “mercados”?

Beijinhos a todas,

Céu

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