Os livreiros falam às Senhoras: Ana Rita Fernandes (Baobá)



Queridas Senhoras,

tem sido um prazer visitar algumas das livrarias que aqui vamos apresentando e conhecer os seus livreiros. Já tinha passado algumas vezes à porta da Baobá, na vizinhança do Jardim da Parada, em Campo de Ourique, mas nunca tinha calhado entrar. Quem vê por fora, não imagina o que vai por dentro desta livraria de ilustração para crianças e adultos, sozinhos ou acompanhados. É uma autêntica casa de livros, com várias salas, recantos de leitura, a culminar numa marquise com pátio exterior. A anfitriã é Ana Rita Fernandes, uma historiadora de arte com paixão pela ilustração.


1. Quando e como se tornou livreira?

Tornei-me livreira há cerca de 15 anos. Comecei na livraria Bulhosa, em Cascais, no final de 2002. Ainda dei aulas a seguir ao meu curso de História da Arte, mas a certa altura resolvi candidatar-me espontaneamente à Bulhosa, uma vez que gostava de ler e me sentia atraída por este universo. Fui chamada, fiquei e depois circulei nas várias livrarias da empresa, de Lisboa a Oeiras. Até que fui convidada para a Baobá, há pouco mais de um ano, e aceitei o desafio.

2. Para si, o que é um livreiro?

No meu caso, ser livreira é combinar aquilo que sei sobre livros com o atendimento ao público.  É um bocadinho ser casamenteira: fazer combinar livros com pessoas.

3. Como caracteriza a sua livraria?

É uma livraria de ilustração, com uma grande parte da oferta dirigida ao público infantil, mas não só, instalada numa antiga casa de habitação. É calorosa e afectiva. E tem também a particularidade de oferecer livros em várias línguas: português, francês, inglês, espanhol, italiano...

4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?

Há uma questão de escala. Num grande espaço não existe – porque não está pensado para isso, não é a sua função – um atendimento personalizado. Essa é a função do pequeno comércio e das livrarias independentes. A escolha dos livros é também diferente numa livraria independente. Há uma curadoria, uma selecção, não se vende tudo o que sai nem apenas as novidades. Há espaço para expor pequenos editores e livros de autor, que desapareceriam num espaço maior. Em livrarias como a nossa, que oferece uma programação cuidada, com actividades todos os sábados e uma selecção de contadores, ateliês, lançamentos, etc., acresce essa função de dinamização cultural, que vai além da venda de livros. Nesse sentido, as livrarias independentes não só promovem o gosto pelos livros (e pela leitura) como contribuem para fortalecer os laços da comunidade.

5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?

A nossa clientela é muito diversificada. Tanto temos habitantes do bairro como de fora (residentes em Portugal ou estrangeiros de passagem) que ouviram falar de nós. Mas temos sobretudo clientes que procuram livros e actividades diferentes do habitual. E, claro, temos a pessoa que procura apenas um livro, uma prenda.

6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

Uma das áreas que promovemos, como referi, é a realização de sessões de contos, música, expressão plástica e outras para crianças de diversas idades. Queremos futuramente ter uma oferta também para adultos, com formações em leitura, ilustração...
É possível virmos a ter Clubes de Leitura, mas ainda estamos a ver em que moldes.
De resto, tentamos passar a todos aqueles que nos visitam o bichinho dos livros!

7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?

Um dos livros que me fez ver a ilustração de outra forma foi o Emigrantes, de Shaun Tan, editado em Portugal pela Kalandraka. É um livro para um público juvenil adulto, de uma incrível beleza e domínio artístico e uma homenagem do autor aos seus antepassados e a todos os emigrantes.
Mais recentemente rendi-me à qualidade dos livros de Jon Klassen. Este ilustrador é editado entre nós pela Orfeu Negro. Quer o texto seja dele, quer seja do Mac Barnett, a ilustração e a narração visual são sempre incríveis. O que ele consegue fazer com uma paleta curta é surpreendente. A expressão das figuras, obtida com simples movimentos de olhos, faz lembrar actores como o Buster Keaton. Os textos são humorísticos e com finais inusitados.



Beijinhos a todas,

Céu

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