Sono vs Barulho Ou como visitar um recém-nascido como se estivesse numa esplanada

Queridas senhoras,

Um dos temas que me é muito querido é o do sono do bebé. Costumava pedir a quem me visitava para não tocar à porta e ligar antes para o telemóvel (modo silencioso) não fosse o bebé estar a dormir.

Também costumava receber as visitas, já na porta, com a voz mais baixa. Os mais distraídos ou mais críticos ainda me perguntavam, em tom de festa, se o bebé estava a dormir. A partir daqui duas situações costumavam ocorrer:

- As pessoas entendiam, aceitavam e baixavam a voz assim que viam o bebé a dormir na sala.

- Depois há os que continuavam no tom de voz normal e respondiam invariavelmente da mesma maneira: “Tens de habituar o teu filho ao barulho. Já criei (1, 2, 3, 4 ou 5, conforme a pessoa que falava) e sempre os habituei ao som do aspirador, da máquina de lavar, da varinha (riscar o que não interessa)…”

Até tive gente a sugerir-me que para a próxima deveria mandar mensagem a avisar quando ele estivesse a dormir que assim já não viriam.   

Os recém-nascidos estão sempre a dormir, dia e noite. Sonos curtos é certo, porque tem de haver intervalos para comer e mudar a fralda. Se as visitas conseguissem esperar uma hora era certo que o veriam acordado.

Palavra de honra, nunca pensei que o sono de um bebé pudesse gerar tanta controvérsia.

Dormir com barulho ou no silêncio? Na luz ou no escuro?

Como é sabido, os maiores especialistas na área do sono aconselham toda a gente a dormir com barulho moderado e num ambiente com alguma luminosidade para um sono retemperador.

Ah, esperem, estão aqui a dizer-me que não. Que é precisamente o contrário. 

Eu sei, eu sei. Há sempre alguém com uma estória de um bebé que gostava de dormir com barulho. Isso é verdade geralmente com prematuros que ficam muitos meses rodeados de máquinas.

Mas também pode ser válido, nos primeiros tempos, para qualquer bebé. Afinal o útero é tudo menos um sítio silencioso. Já alguma vez escutaram? Oiçam então aqui. É por essa razão que há bebés que só adormecem junto da máquina de lavar roupa, por exemplo, ou de um exaustor. 

Mas isso tem de ter um fim. Porque afinal de contas é no silêncio e no escuro que eles vão dormir o resto da vida.

Portanto, aqueles pais orgulhosos que acham que ensinaram os filhos a dormir com o barulho da varinha, andam na verdade enganados. Os filhos é que disseram aos pais como gostavam de dormir nos primeiros meses. 

O movimento é precisamente o oposto do que se apregoa por aí. Tentar passar progressivamente o sono do bebé de um sítio com algum barulho constante para um totalmente silencioso. Conhecem algum adulto que durma com um aspirador a trabalhar na mesma divisão? Ou alguém que continue a dormir como se nada fosse com o telemóvel aos "berros" ou a campainha de casa a tocar consistentemente?

Posto isto, se tivesse de escrever os mandamentos da visita a um recém-nascido, o primeiro seria: Não incomodarás o sono de uma criança.

Pessoal, visitem também os pais, não vão só pelo bebé, ok? Ele nem sequer se vai lembrar da vossa cara. Mas os pais sim, vão recordar esse momento.

No outro dia estava a ouvir um estudioso do tema do sono falar sobre os perigos de quem adormece a ver televisão. Segundo ele, invariavelmente, essas pessoas acabam por ter insónias numa fase posterior da vida. Isto é assustador e o pior é que começamos logo com os pequenos sem que nos apercebamos do caminho que estamos a promover. 

Dormir num quarto escuro apenas com o botão vermelho da televisão ligada pode ser o suficiente para causar distúrbios no sono. Sabiam disto?

E as minhas queridas mães, como foi no vosso caso?

Até para a semana com o tema do bem receber.

Crónica anterior: Crónica de uma mãe cansada

Paula

Nota: Imagem de Daria Shevtsova com ajuda à produção de Raquel Barreiros.