Explosão de estrelas

Queridas Senhoras,

fui hoje ver o filme Supernova motivada por duas críticas excelentes, de dois críticos em quem confio (Jorge Leitão Ramos do Expresso e Jorge Mourinha do Público). Sei que há muita gente que defende que não se deve ligar à crítica, mas eu gosto muito do género crítica e ensaio. Leio sobre vários filmes e livros que não estou propriamente a pensar ver ou ler, apenas porque me interessa de perceber a estrutura e o desenvolvimento do texto, as associações que estabelece, os tópicos que escolhe destacar, as falhas e os sucessos que aponta.

O Jorge Leitão Ramos diz que, depois de muito tempo no ofício, percebeu que prefere avançar para o filme em branco, sem quaisquer informações prévias. Aconselha os leitores/cinéfilos a lerem a crítica apenas após terem visto o filme. Compreendo a opção, mas não a sigo. Leio críticas antes e depois, muitas vezes a mesma, porque a leitura que faço antes e depois de ver o filme (ou ler o livro) é diferente.

A principal razão que me faz gostar de ler críticas e ensaios é que, em princípio, o autor do texto não vai dizer "gostei muito" ou "não gostei nada", que são os comentários dominantes do espectador/leitor comum. O crítico é alguém que tem uma visão mais ampla, informada, fundamentada do que o comum, e eu gosto de beber essa informação extra para perceber melhor o objecto que tenho à frente.

Isto tudo para dizer que não sou capaz de fazer uma crítica ao filme Supernova. Vou dizer algo que não é spoiler porque está na sinopse. É mais um filme que aborda a demência, a perda de identidade, no contexto das relações de proximidade da pessoa diagnosticada com a doença (como Amor, O Meu Nome é Alice, ou mais recentemente O Pai, que ainda não vi). Se no caso de Amor e O Pai, a demência surge na velhice, em O Meu Nome é Alice e neste Supernova somos confrontados com o mal numa idade precoce, em que a pessoa parece estar ainda no auge de todas as suas capacidades.

O facto de Supernova ter como protagonista um casal homossexual não implica nada de específico a essa condição, tão só impregna o filme de grande beleza dramática, fruto da doce química entre Colin Firth e Stanley Tucci. Não se tratando de um casal heteronormativo, representa o melhor que pode existir numa relação de muitos anos, feita de pequenos rituais e cumplicidades, e o que significa a consciência do fim.

Até para a semana,

Céu

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