A ti, que vais ser pai:
- Que quando cortam o cordão umbilical que liga mãe e filho, cortam um bocado do corpo e da alma da mãe. É por isso que a mãe se agarra ao filho recém-nascido e não o quer largar por nada. A alma da mãe reclama aquele bocado amputado. O corpo também.
- Que quando mãe e filho se olham pela primeira vez, olham-se com olhos de quem se conhece desde a mais antiga das eternidades, num conhecimento secreto e íntimo, de quem se apercebe de que terá de partilhar esse conhecimento com o mundo inteiro. O segredo preferido de ambos tornado público. É por isso que são capazes de passar horas a olhar-se, mãe e filho. Fingem que o seu segredo preferido é ainda secreto.
- Que nos primeiros dias de vida de um filho, aquilo que uma mãe mais sente é vontade de chorar. E chora. Algumas mães choram durante muito tempo, outras menos. A maternidade é também um luto, e não há nada neste luto que colida com a imensa maravilha de uma nova vida. Tem que ser vivido, cada mãe vive-o à sua maneira. A felicidade de uma mãe tem várias faces, uma delas é a mais profunda das tristezas. Um pedaço de corpo a menos, um pedaço de alma a menos, o segredo preferido tornado público. É por isso que as mães choram.
- Que ninguém diz a uma mãe que ela é uma heroína por saber pegar no filho ao colo, por saber alimentar o filho, por saber mudar fraldas ao filho, por saber vestir o filho, por saber acalmar o filho. Toda a gente diz a um pai que ele é um herói por saber pegar no filho ao colo, por saber alimentar o filho, por saber mudar fraldas ao filho, por saber vestir o filho, por saber acalmar o filho. É por isso que as mães não chamam heróis aos pais, ou não tantas vezes como eles gostariam. As mães sabem que os pais são heróis. Mas já toda a gente lhes diz isso. No entanto, também sabem que são heroínas. Só que ninguém lhes diz isso.
- Que o corpo de uma mãe não sabe que é o corpo de uma mulher. Quando cortam o cordão umbilical que liga mãe e filho, cortam também a identidade do corpo de uma mãe. Um corpo de mãe sem identidade é um corpo vazio. Serve para alimentar, serve para carregar, serve para abraçar, sabe para que serve mas não sabe o que é. Serve mas não sente. Pouco a pouco, o corpo lembra-se, e primeiro entristece-se. É também por isso que as mães choram. O corpo lembra-se de ser mulher, de sentir, e tem medo de estar para sempre amputado. Com o passar do tempo, a identidade de mulher regressa ao corpo da mãe. Mas o tempo leva tempo a passar, umas vezes mais, outras vezes menos. E não há vontade que mande no tempo.
- Que a mãe do teu filho vê no teu filho o amor que sente por ti e ama-te ainda mais por isso. Que quando a mãe do teu filho tem para o teu filho todos os gestos que tu gostavas que tivesse para ti, está ainda a aprender. Toda a gente fala no instinto de mãe como uma coisa inata, cósmica. Mas não existe instinto de mãe-mulher. Nem inato nem cósmico. O cosmos inteiro quer que a mãe seja mãe, e cabe apenas à memória, à saudade, a árdua tarefa de instituir a mãe-mulher. É por isso que, quando o teu filho nascer, tu vais sentir que ganhaste algo e perdeste algo. Mas tem paciência. A mãe do teu filho vai sentir que ganhou tudo e perdeu tudo. Tenham ambos paciência. No amor nada se perde. É tudo uma questão de tempo, tempo para aprender.
Marta
É lindo Marta, obrigada. Com o Duarte a caminho tenho pensado tanto nas emoções "já vividas" que vou voltar a viver e a sentir ...o quanto vou chorar, de alegria e tristeza, tudo ao mesmo tempo... mas agora mesmo apetece-me é ler o texto novamente.bjsMariana
ResponderEliminarNo local de trabalho ao pé de duas mulheres ainda não mães...Pois...Estou a controlar para não chorar.
ResponderEliminar:) Bem-vinda, Melanie!
ResponderEliminarThese rollercoaster feelings never change... Not even after a third time! (Beautifully written words, Marta!)
ResponderEliminarObrigada, Cristina. Aparece mais vezes! :)
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