Queridas Senhoras,
Dezembro chega já esta semana e dei por mim a pensar que este vai ser o primeiro Natal que passo sem avô nenhum.
Os meus avós paternos morreram há vários anos mas os maternos estiveram connosco até há bem pouco tempo. Acompanharam os primeiros anos da Alice, chegaram a conhecer o João e assistiram ainda aos seus primeiros passos e palavras. Eram os "bisos". Os poucos anos em que todos conviveram, meninos e velhos com quase 80 anos de diferença, foram preciosos. À mesa da Consoada chegámos a sentar-nos todos por duas ou três vezes.
O meu último avô deixou-nos este ano no Verão. Pouco depois, a minha sogra, senhora já de alguma idade e de infinita ternura, também partiu. A família perdeu os seus anciãos. Perdemos a sua protecção e cuidado. Sim, eles estavam velhos e já não podiam, nós cuidávamos deles. Mas eles também cuidavam de nós.
Se ter avós é ser criança, o primeiro Natal sem avô nenhum é um corte com a infância e uma aproximação à morte. Porque estamos menos protegidos, mais sozinhos. O núcleo de origem vai-se dissipando. Agora é connosco.
As memórias deles começam a ter contornos de lenda, de histórias fantásticas. O meu avô paterno era sapateiro numa aldeia da Beira Alta e ia vender sapatos à Feira de Trancoso. O meu avô materno veio do Alentejo e foi para a Carris como correeiro, fazia as malas dos revisores e tocava na banda. Eram ambos poetas, escreviam versos. As avós eram lindas, pragmáticas, cuidavam de tudo e amavam-nos.
Como os imagino agora é todos à roda de uma mesa posta. A sopa está servida, há pão, queijo e azeitonas. A D. Laura também está com eles. Sorriem todos, carinhosos. Comem, bebem e conversam. Estão serenos e olham por nós.
P.S. À minha avó Augusta que adorava a Amália e havia de ter ficado contente com a elevação do Fado a Património da Humanidade.
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Beijos para todas (e famílias),
Céu
Querida Céu,Sim, tinhas que ter nascido numa família de poetas:)) Gostei tanto de ler as tuas palavras, tao queridas, cheias de ternura e saudade. O meu mundo nao existe, nao funciona sem as minhas avós. Ambas de 90 anos, sao a âncora das minhas famílias - o centros das festas, do Natal, da Páscoa. Tudo o que nos marca e nos define com família e clã tem a marca da Avo Teresa e da Avo Lita. Tenho tido a sorte de apesar ter viajado e vivido fora de Portugal toda a minha vida, sinto-me tão ligada a elas como se tivesse vivido aqui. Nas minha voltas e reviravoltas da minha vida adulta, a distancia das minhas avos e o que mais me pesa...quanto tempo mais teremos juntas para beber chá, gozar os meus filhos juntas, falar do passado, falar de Deus, dar as mãos e trocar beijinhos e tomar pequeno-almoço. Fiquei com saudadesMarianaSent from my iPhoneOn 29 de Nov de 2011, at 10:59, senhoras da nossa idade wrote:
ResponderEliminarQuerida Mariana, duas avós de 90 anos e quatro filhos! Imagino os índices de amor, carinho e ternura a dispararem quando vocês estão todos juntos. Doses e doses de amor puro. É engraçado: agora é suposto as crianças fazerem mil e uma coisas, actividades para estimularem isto, desenvolverem aquilo, as competências sociais, emocionais, eu sei lá...O que sei é que esses miminhos que contas, tomar chá e dar beijinhos às avós, é assim como tirar um mestrado em emoções :)beijinhos,Céup.s. eu própria fiquei com vontade de tomar chá com as tuas avós e de lhes dar beijinhos :)
ResponderEliminarQuerida SenhoraAmor puro... Isso mesmo.Estão todos convidadas para um cup of Tea. Que tipo preferem? English Breakfast, Earl Grey, Darjeeling, Lady Grey ou Ceylon? Com ou sem leite?Fica aqui mais um tema para outro post sobre as avós - o ritual do chá em casa das avós.Bjs a todasSent from my iPhone
ResponderEliminarVocês hoje dão cabo de mim... O tema "avós" é das coisas que mais me emociona e aquece o coração (e também entristece um bocadinho). Por isso, hoje não me vou alargar muito. Estou deliciada com os vossos testemunhos. E sobre chá, sim, posso falar, e muito! Na casa da minha avó Aninhas, que era também a minha casa, pois eu tive o privilégio de crescer com os meus avós maternos a viverem connosco, o chá era sagrado :) Ainda hoje não sei viver sem ele...Beijos grandes, minhas lindas, ternurentas e surpreendentes amigas :)
ResponderEliminarEu tenho uma relação especial com a minha avó Fernanda.Tem 93 anos e vive sozinha no centro de Cascais.Também tinha com a minha avó Celeste,com quem dizem que sou parecida.As minhas memórias estão muito ligadas ás temporadas que passei em casa de uma e de outra,quando a minha mãe acompanhou o meu pai em duas viagens mais longas.(O meu pai é comandante da Marinha Mercante)Em casa da avó Fernanda comíamos torradinhas e café com leite ao pequeno almoço,doce de ginja e pratas (umas bolachinhas deliciosas ),fazíamos bordados-ponto pé-flor;ponto cadeia,forrávamos botões - a avó Fernanda era costureira.Em casa da avó Celeste,o lanche especial era um papo seco com fiambre e um sumol de ananás,vestíamos as combinações dela e fazíamos patinagem no soalho de madeira,com aqueles chinelos de trapo,cantávamos canções com a bengala do avô Álvaro a servir de microfone ,e...isto dava um post !!!Obrigada Céu,por me fazeres pensar nas coisas boas!Mariana - Não bebia chá em casa das avós...mas agora aceito um,sem leite e sem açucar !!!bjs e amanhã é dia de fazer a árvore de Nata cá em casa.
ResponderEliminarCéu lindaNao me canso de ler o teu texto... ObrigadaMariana Sent from my iPhoneOn 29 de Nov de 2011, at 10:59, senhoras da nossa idade wrote:
ResponderEliminarSusana! Com essa do sumol fizeste-me lembrar Tai e do Mã, uns avós emprestados que moravam no prédio dos meus. Eu passava a vida escada abaixo escada acima e almoçava muitas vezes com eles. O sumol (mas de laranja) nunca falhava. Raramente bebo mas ainda hoje adoro :)Também já temos árvore de Natal!Bom feriado, beijos a todas!
ResponderEliminaramorzinho querido lindo...adorei a simplicidade do texto sobre os avôs e avós. Obrigado
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