Os amantes e as palavras
Paris: grafitti da artista miss tic na rue Saint Banoît, morada de Marguerite Duras
Minhas queridas amigas,
sem querer invadir o território da Céu, tenho que admitir que o meu post de hoje nasceu da notícia da inauguração de uma nova livraria em Lisboa, a Ler Devagar com Amor.
Uma nova livraria é sempre motivo de celebração neste blogue. Esta tem a particularidade de se dedicar exclusivamente à literatura erótica. Numa época profundamente subjugada pela imagem, instala-se no Cais do Sodré como um farol para navegantes à deriva. Não temais, ó Deuses do amor e do desejo: a palavra não está morta.
É de palavras que se constroem as minhas principais referências, os pontos cardeias da minha bússula existencial. Cresci a procurar coordenadas nas palavras dos outros, na esperança de poder vir um dia a desenhar-me por palavras próprias..
Hoje recordo algumas das leituras que mais me marcaram quando me preocupava em compreender as questões do amor e do desejo. Procurei reunir os livros para as transcrições corretas e percebi que me chegaram quase todos às mãos em 1992. O ano da curiosidade?
. "Não havia que atrair o desejo. Ele estava naquela que o provocava ou não existia. Estava lá desde o primeiro olhar ou então nunca existira. Era a inteligência imediata da relação de sexualidade ou então não era nada. Isso soube-o eu antes da experiência." Marguerite Duras, O Amante
- "Lembra-te que tudo é bem até ser mal. Darás conta quando for mal." Ernest Hemingway, O Jardim do Paraíso
- "Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação." Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta
. "- Cruzo-me, ao longo da minha vida, com milhares de corpos; desses milhares posso desejar umas centenas; mas, dessas centenas, não amo senão um. O outro por quem estou apaixonado mostra-me a especialidade do meu desejo." Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso
. "- A mim parece-me que os nossos dois corpos têm muita importância um para o outro. - Eu acho que as nossas palavras têm tanta ou mais importância do que eles." António Alçada Baptista, Os Nós e os Laços
. "Há duas maneiras de chegar a mim: através de beijos ou através da imaginação. Mas há uma hierarquia: só os beijos não funcionam." Anaïs Nin, Diário
. "O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;
colunas em repouso se anoitece:
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor dum fruto, o peso duma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror; são a grande razão, a única razão." Eugénio de Andrade, As Palavras Interditas
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Bom fim de semana a todas!
Beijinhos
Marta
Fogo! Os teus ângulos são sempre excelentes mas este foi sublime. E assim de repente deste logo uma ideia para a dinamização da nova Ler Devagar da Pensão Amor: convidar pessoas para falar dos livros marcantes da sua "formação" amorosa e erótica. Não é lindo? Como tu dizes: quando tudo está tão saturado de imagens, que suave, que amoroso é regressar às palavras. beijos e continuação de bom fds
ResponderEliminarSabes Marta,o ano de 92 é para mim um dos mais memoráveis.Foi o meu último ano na António Arroio,a escola que mudou a minha vida e foi também o ano Duras !!! Foi nesse ano que li mais livros dela e houve um em particular que nunca mais vou esquecer: "Dez horas e meia numa noite de Verão",não por ser o meu preferido,ainda tenho que pensar qual é,mas porque o li em voz alta à Marisa,nas aulas de Tapeçaria,enquanto ela tecia o seu "Cavaleiro Azul ". Queres algo mais artístico que isto ???
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