Carta de uma mãe à filha para daqui a 25 anos




Queridas Senhoras,

acabei de ler um artigo sobre a nova peça em cena no Teatro Maria Matos (estreou ontem), Os Dias são Connosco, de e com Raquel Castro. Já tinha visto o cartaz mas não sabia nada história nem do que está por trás da história. Tem tanto a ver connosco que não pude esperar para partilhar.

A sinopse da peça e as palavras da actriz explicam tudo:

Quando a sua filha nasceu, Raquel Castro iniciou um diário em vídeo de 365 dias para poder mostrar-lhe, mais tarde, o seu primeiro ano de vida. Inspirada por esse registo privado e documental, decidiu criar um espetáculo, uma carta-vídeo de uma mãe para uma filha que é também um retrato de uma pessoa e do mundo que a rodeia, feito ao vivo para ser visto no futuro.

“Quase sempre aquilo que parecia ter sido um dia igual aos outros acabava por me surpreender, porque ao reviver o filme em câmara lenta no final de cada dia, dava por mim a relembrar coisas, situações, imagens, pessoas ou palavras que tinha ouvido ou dito, das quais dificilmente me tornaria a lembrar. Foi importante perceber que a vida está cheia de presente, de um presente que não podemos abarcar na totalidade. A sensação era a de que afinal tinha vivido muito mais do que aquilo que julgava. O vídeo acabava também por funcionar como um depósito dessas coisas que nunca teriam lugar na minha memória, coisas por que passei mas que, de outro modo, acabariam de fora da grande narrativa da minha vida.” Raquel Castro

Agora o que não está aqui. O título da peça, Raquel foi buscá-lo a uma crónica do Miguel Esteves Cardoso em que ele fala da forma como podemos decidir como foi o nosso dia, escolher o que define cada dia que passa.


Os dias são connosco
Não interessa como se passou a manhã nem interessa como se passou a tarde. Somos nós que decidimos como foi o dia.
Em vez de ser o dia em que fomos a Lisboa tratar de coisas chatas, pode ser o dia em que almoçámos lindamente na Gôndola com a nossa sobrinha Catarina.
Em vez de ser o dia em que levámos com o calor da cidade e dos prédios e dos carros, pode ser o dia em que lanchámos, no Palácio de Seteais, um jarro enorme de limonada, feita com limões dos limoeiros à nossa frente, mais uma tijela de amêndoas torradas.
Em vez de ser o dia dos nervos e dos medos pode ser o dia em que jantámos cedo na Praia das Maçãs, duas carpas fritas para nós, carpas bonitas, com feijão verde verdinho, daquele que nunca mais vai haver.
Somos nós que mandamos na definição do dia. Ninguém nos pode tirar esse poder. Podem tentar definir-nos o dia, para mais escuro ou para mais luzidio, mas nós não temos de aceitar essa definição.
Somos nós que escolhemos as partes do dia com que vamos defini-lo. Podemos ser frívolos, se quisermos. Podemos definir o dia em que soubemos que a jovem Rosinha - que é a gata de Seteais - teve uma ninhada e que todos se encontram bem, graças a Deus.
Em vez de ser o dia que eu fui ao dentista, pode ser o dia em que fiz as primeiras filmagens da minha mulher - a rir-se e a fazer gestos encantadores, mas obrigatórios de "não me filmes!" no meu iPhone novinho.
Somos nós que decidimos o dia que foi. E nós decidimos que foi assim.
Miguel Esteves Cardoso, Público, 12/08/2009


Um projecto 365 dias, uma mãe que escreve uma carta-vídeo para a filha “ler” em 2038, quando tiver a idade que a mãe tinha quando a teve (28 anos), uma crónica do MEC…tem ou não tudo a ver connosco?!


Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. Adorei, Céu! Muito boa a ideia de filmar o primeiro ano de vida da filha (e gabo-lhe a lucidez e a energia...)

    Beijinhos!

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