Queridas Senhoras,
neste início de ano, gostava de sugerir a leitura desta entrevista ao pediatra Mário Cordeiro, no Público de ontem. Entre muitos outros pedaços de uma bela conversa, destaco estas passagens:
“Tendo o meu pai uma vida tão sobrecarregada, não dava para estar uma hora com todos. Conseguia pequenos momentos, pequenos códigos, que uniam a família.”
"Uma atenção exclusiva, que parece durar a vida toda, e que cabe em 15 minutos. (..) Quando era esse quarto de hora: chegava o Outono, fazia-se uma queimada de folhas (...) Essa percepção das coisas, esses momentos, eram preciosos.”
Já aqui falei da importância dos 15 minutos, de tudo o que consigo fazer em vários quartos de hora roubados. Mas neste caso não se trata de despachar assuntos. Aquela frase, "pequenos códigos que uniam a família", faz todo o sentido para mim.
Convenhamos: não é em 2015 que vou ter mais tempo. Nunca vou ter mais tempo do que este. Nem as mães ou pais que estão em casa a tempo inteiro têm mais tempo (ou sobretudo eles, não têm). A história dos códigos e dos 15 minutos que duram a vida toda: é tudo o que temos e não é nada pouco.
O que é a família se não uma teia de cumplicidades que vamos tecendo ao longo do tempo, muitos 15 minutos somados? Os códigos, as pequenas brincadeiras, os comentários rápidos, as trocas de olhares, são muitas vezes tudo o que temos no dia-a-dia.
Hoje foi dia de regresso à escola, o que é sempre difícil. Por isso comecei por sugerir ontem ao João que ele vestisse a camisola nova, dos duendes (um camisolão verde felpudo, com gorro, que o faz parecer um duende). Os duendes são um código. Porque andei uns tempos a trazer para casa chocolates da Regina e dizia que eram feitos na fábrica dos duendes.
O João tem 5 anos mas às vezes não come a sopa sozinho. Uma vergonha, eu sei. Então para despachar (coisa que nunca se deve fazer), às vezes dou-lhe as colheres à boca, uma para cada personagem de um filme que vimos ou de uma história que lemos. Ou então só às personagens principais. Esta é para a Coraline, esta é para o Bambi, esta é para o Rei Leão, esta é para o Mogli. Uma vergonha, eu sei. Ele tem lá idade para isso. Mas é um super-código.
Com a Alice, o código pode ser um simples revirar de olhos. Uma ironia qualquer. Este sábado ela fartou-se de gozar comigo porque andei em limpezas e arranjos porque no domingo íamos receber convidados para almoçar. Passei a tarde a esfregar paredes com lixívia para tirar as humidades e foi divertidíssimo. Porque tinha a Alice atrás de mim a gozar. “Tu não te importas com a casa, só estás a fazer isso porque vem cá a tia Carla.”
Ela topa-me a léguas e isso é o nosso código.
E vocês? Que códigos têm?
Beijinhos a todas e um Feliz Ano Novo!
Céu
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