Queridas Senhoras,
espero que se encontrem bem depois destes dias de temporal. Não sei se têm um bom guarda-chuva. Eu não tenho. Acho que nunca tive. O título deste post é roubado ao livro do Afonso Cruz. É disso que me lembro sempre que vejo a cidade cheia de guarda-chuvas abandonados nos caixotes, pelas esquinas, no meio da estrada. Acontece que eu resgato guarda-chuvas do lixo. Há muito que percebi que há quem deite fora chapéus em melhor estado do que aqueles que eu uso. É comum avançar pela chuva com um chapéu bastante danificado, avistar um outro no caixote e perceber que ganho com a troca. Há óptimos chapéus pelos caixotes, chamo a atenção para isso caso nunca tenham reparado.
Hoje uso um guarda-chuva transparente (nunca tive um guarda-chuva transparente) que é realmente um objecto útil e inteligente que confere visibilidade e agilidade nos percursos urbanos. Falta-lhe apenas uma vareta. Vou estar atenta mas duvido que esta semana consiga encontrar um melhor. Posso é começar a coleccioná-los. Ora aí está.
– A minha mãe, Sr. Elahi, interrogava-se para onde vão os guarda-chuvas. Sempre que ela saía à rua, perdia um. E durante toda a sua vida nunca encontrou nenhum. Para onde iriam os guarda-chuvas? Eu ouvia-a interrogar-se tantas vezes, que aquele mistério, tão insondável, teria de ser explicado. Quando era jovem pensei que haveria um país, talvez um monte sagrado, para onde iam os guarda-chuvas todos. E os pares perdidos de meias e de luvas. E a nossa infância e os nossos antepassados. E também os brinquedos de lata com que brincávamos. E os nossos amigos que desapareceram debaixo das bombas. Haveriam de estar todos num país distante, cheio de objectos perdidos. Então, nessa altura da minha vida, era ainda um adolescente, decidi ser padre. Precisava de saber para onde vão os guarda-chuvas.
– E já sabe? – perguntou Fazal Elahi.
– Não faço a mais pequena ideia, mas tenho fé de encontrar um dia a minha mãe, cheia de guarda-chuvas à sua volta.
Para Onde Vão os Guarda-Chuvas, Afonso Cruz
Beijinhos a todas,
Céu
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