Queridas Senhoras,
não é a primeira vez que Anita Brookner aparece nestas páginas. Há precisamente dois anos escrevi aqui sobre A Baía dos Anjos, publicado em 2001. Neste interregno não li mais nada da escritora britânica, falecida em 2016, aos 87 anos, que publicou o seu primeiro romance aos 53. Até que na última e frutífera visita à biblioteca reparo que há uma generosa fileira de romances da autora. Trago Hotel du Lac, vencedor do Booker Prize em 1984.
Acontece-me muitas vezes gostar tanto de um livro que estou sempre desejosa de retomar a leitura. Mas nem sempre pelas mesmas razões. Frequentemente trata-se de pura curiosidade sobre o avanço do enredo, querer saber o que acontece a seguir. Noutros casos, menos frequentes, fico tão fascinada e envolvida no ambiente que quero voltar depressa para “lá”. Foi o que aconteceu em Hotel du Lac que, ainda por cima, tem um dispositivo narrativo que me fascina. Tudo se passa num hotel (na Suíça, à beira de um lago), durante um curto espaço de tempo (o mesmo aqui e aqui).
A transitoriedade do lugar e do tempo cria uma sensação de irrealidade que a atmosfera de fim de estação, o número reduzido de hóspedes, os nevoeiros, a paisagem despida, ajudam a adensar. A escrita é elegante e suave, como a protagonista, Edith Hope, uma escritora de romances “femininos” em retiro forçado devido a um desaire afectivo.
No decurso da sua estada no hotel, Edith vai intercalando o convívio com a curiosa galeria de hóspedes (uma mãe e uma filha de idades indefinidas em ócio perpétuo, uma velha senhora abandonada pelo filho, uma mulher casada e perturbada em recuperação, um homem de negócios de tornozelos finos com propensão para a ironia) com a escrita de missivas nunca enviadas para um antigo amante.
Pelo meio, terá que descobrir o que fazer com o resto da sua vida, dado que se tornou de certa forma incómoda, as pessoas não sabem como situá-la, como arrumá-la numa categoria. Lutando contra uma depressão latente, a frágil, quase invisível Edith terá de arranjar maneira de continuar. Até porque, na sua pequena casa, em Londres, há um jardim onde ela gosta de se sentar no final do dia de trabalho, depois de horas a escrever. Ora, quem lê, escreve e tem um jardim, não pode considerar-se desprovido.
Beijinhos a todas,
Céu
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