Queridas Senhoras,
se a pergunta for “vale a pena ler as 870 páginas de 4 3 2 1?”, pois não sei que vos diga. Só posso falar da minha experiência pessoal. Trouxe o livro por impulso, estava disponível na biblioteca e achei que ficava a matar nas três semanas de férias. Não me enganei.
Como já disse aqui, nas férias gosto de facto de mergulhar na leitura, submergir mesmo, num livro que me envolva completamente na sua narrativa. E lá narrativa é coisa que não falta! Até sobra! Quatro vidas dão pano para mangas e é isso que vamos tendo em capítulos intercalados, os quatro possíveis caminhos da vida de Archie Ferguson, um rapaz americano nascido em 1947.
Para além do núcleo próximo de Ferguson (pais, padastros, meios irmãos, amigos), existem dezenas e dezenas de personagens e todas têm direito a nome completo. (Excepto duas mulheres com quem Archie tem uma relação tão fugaz e desinteressante que são realmente as únicas que permanecem anónimas em 870 páginas recheadas de nomes e apelidos, toponímia, nomes de empresas, de ruas, bairros, cidades, universidades, equipas desportivas...).
Acresce que 4 3 2 1 é um livro com muitos livros dentro. Para além das histórias que o próprio Ferguson escreve, há as muitas obras que acompanham o seu crescimento, incluindo intra-uterino. Confinada a uma cama durante toda a gravidez, Rose Adler é intimada pela irmã universitária, Mildred, a aproveitar aquele tempo para se instruir literariamente. E então a jovem Rose lê de tudo, de uma lista criteriosamente seleccionada pela irmã, que omite Moby Dick, Ulisses e A Montanha Mágica (“demasiado intimidante”) mas tem Madame Bovary, Dublinenses, David Copperfield. Mas tem em especial Tolstoi, de quem Rose quer ler absolutamente tudo. A Felicidade Conjugal deixa-a à beira das lágrimas e da ruptura das águas.
Mais tarde, Ferguson seguirá um caminho idêntico mas mais abrangente, fazendo variadas leituras guiadas que acompanham o seu crescimento. Cervantes, Dickens (muito), Thoreau, eis alguns dos mais marcantes para o nosso jovem.
Não sei quanto a vocês, mas livros destes, pejados de referências, fazem-me cá umas cócegas... Quero muito ler Dickens, que conheço mal, e pensei em aproveitar para ler com os meus filhos. E não é que de Thoreau apareceu lá por casa um livrinho, Onde vivi e para que vivi, extraído de Walden?
Os livros são como as cerejas. Ou, para uma comparação mais estival, são como as ondas do mar. Ainda vamos embalados num e já vêm outros logo atrás.
Beijinhos a todas,
Céu
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