Queridas Senhoras,
a semana não podia começar melhor. Valério Romão (n. 1974) é o nosso terceiro escritor convidado. Daqui por um mês, quando sair o muito aguardado último volume da trilogia Paternidades Falhadas (Abysmo), o autor vai, por certo, ocupar de novo as capas e as páginas centrais dos suplementos culturais. É o que tem acontecido desde a sua estreia literária, em 2012. O Senhoras da Nossa Idade antecipa-se e revela (quase) em primeira mão o título do novo livro.
Depois de Autismo (2012) e de O da Joana (2013) (o primeiro sobre as vivências de uma família com um filho autista e o segundo sobre uma gravidez falhada), Cair para dentro (2018) encerra a trilogia com uma narrativa sobre a relação entre uma mãe controladora e uma filha submissa, papéis que se invertem quando a mãe começa a sofrer de alzheimer. Note-se que Autismo foi finalista do prémio literário francês Femina em 2016, com grande repercussão nesse país. O da Joana foi também publicado em Itália.
O autor publicou ainda três livros de contos: Facas (2013, Companhia das Ilhas), Da Família (2014, Abysmo) e Dez razões para aspirar a ser gato (2015, Mariposa Azual). É também autor de peças de teatro (algumas estão editadas) e de poesia, por enquanto inédita (mas está previsto, para breve, o lançamento do livro-cd Poetas Portugueses de Agora, que integra poemas seus).
As disfunções familiares são o seu território literário de eleição. É por isso que o autor sugere precisamente o livro de contos Da Família para uma primeira aproximação à sua obra. Respeito a sugestão. Mas eu já li praticamente tudo e acho que não há risco de falhar: por onde quer que se comece, fica-se agarrado àquelas palavras (sobre a experiência escrevemos aqui, aqui, aqui e aqui).
Senhoras e senhores, passamos a palavra ao nosso Valério Romão:
1. Um livro seu que recomendaria a quem queira iniciar-se na sua obra
Da Família, é um livro de contos no qual desenvolvo os principais temas que me ocupam. É simpático, porque se o sujeito se der conta de que não gosta, pelo menos não teve de ler 300 páginas para chegar a essa conclusão.
2. Três livros / autores fundamentais na sua existência
Lobo Antunes, Virginia Woolf e A morte de Ivan Illitch, de Tolstói
3. Três livros que todas as crianças/jovens deveriam ler
Não tenho muita familiaridade com a literatura juvenil ou infantil para fazer esse tipo de recomendações. Acho sobretudo que os jovens deviam ler aquilo que têm nas prateleiras de casa ou nas bibliotecas, da matemática à museologia, dos romances de cordel aos clássicos. Deviam apenas dar expressão a uma curiosidade intelectual, sem o espartilho das regras.
4. Um livro sobrestimado, que não merece a fama que tem
A Piada Infinita, de David Foster Wallace. Acho um tremendo aborrecimento. Lembro-me de uma das críticas ao Foster Wallace (de quem aprecio sobretudo os ensaios) ser "ainda não há nome para aquilo que faz". Há: tédio.
5. Uma sugestão cultural (filme, peça de teatro, concerto, exposição...)
Um filme: The Killing of a Sacred Deer, de Yorgos Lanthimos. Sobre o mal, a vingança, a justiça e a necessidade de pesar o valor da existência humana.
6. Um programa e/ ou série de TV
Black Mirror, a série distópica que recupera - e bem - a ideia que presidia ao Twilight Zone.
7. Uma livraria e/ ou biblioteca da sua preferência
Gosto da Letra Livre, na Calçada do Combro; da Snob, na Cossoul (são muito perto da minha casa, e eu sou algo preguiçoso).
8. Uma sugestão de leitura para as Senhoras da Nossa Idade (i.e. dos 35 em diante)
Tão Bela Como Qualquer Rapaz, da Andreia C. Faria.
Beijinhos a todas,
Céu
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