Do you love me like I love you, Mr Nick Cave?

Queridas Senhoras,

a minha paixão pela correspondência é antiga. Ainda hoje consigo, menos vezes do que gostaria, trocar cartas e postais com algumas das pessoas a quem tenho coisas para dizer, e de quem valorizo, como um tesouro, receber na caixa do correio uma folha de papel com aquela letra manuscrita que me abraça.
Para além das minhas cartas, as cartas dos outros também me fascinam. Escritores, sobretudo, mas outros artistas, também. Tenho um livro que é uma das minhas peças mais queridas, comprado no Musée Rodin, que colige cartas trocadas entre o próprio Mestre e Rainer Maria Rilke. Anaïs Nin e Henry Miller, outros correspondentes que coleccionei ao longo dos anos. E, mais recentemente, saltou-me à vista a edição da Guerra & Paz, Correspondência – Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, que compilou as cartas trocadas entre Sophia e Sena de 1959 a 1978, os anos do exílio deste (os mesmos anos durante os quais escreveu, demoradamente, Sinais de Fogo, que eu estou agora a ler).
A lista continua. E a Internet veio trazer-nos muitos mais documentos desta natureza, que encontro sempre com renovado prazer. É voyeurismo, sim, é o equivalente, para mim, ao prazer que outros sentem em ler as revistas de celebridades e descobrir o interior das suas casas e como passam o seu tempo.
A mim, o que me entusiasma é descobrir como pensam aqueles cuja obra admiro. Tal como os leitores das revistas cor-de-rosa, que gostam de se imaginar a morar naquelas casas, eu gosto de me imaginar a morar naquelas mentes. Andamos todos à procura do mesmo: mais do que apenas isto.
Hoje, através da Susana Esteves Pinto, uma das nossas entrevistadas na rubrica Os Leitores falam às Senhoras, descobri The Red Hand Files, uma plataforma através da qual Nick Cave responde a perguntas que lhe fazem os seus admiradores. A correspondência a fazer parte das suas estratégias para lidar com a perda terrível que sofreu.

So how do we return to our lives – to the awe of existence – and reclaim a sense of wonder? Well, for me, it had something to do with work but it also had something to do with community. Work and community. I kind of realised that work was the key to get back to my life, but I also realised that I was not alone in my grief and that many of you were, in one way or another, suffering your own sorrows, your own griefs. I felt this in our live performances. I felt very acutely that a sense of suffering was the connective tissue that held us all together.

Já tenho leitura para o feriado. E talvez venha a perguntar-lhe também alguma coisa. Quem sabe se ele não me responde?



Beijinhos a todas,
Marta

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