Voltar aos espaços fechados

Cinema Nimas

Queridas Senhoras,

retomar algumas das actividades de lazer da vida pré-pandemia requer um esforço consciente. No espaço de uma semana, voltei ao cinema, ao teatro e jantei com amigos. Tudo coisas que adoro fazer, sempre adorei, mas agora não são imediatas nem naturais. Cinema e teatro implica estar fechada numa sala durante pelo menos duas horas, e eu não gosto de estar fechada. Não é o medo do vírus, é mesmo o facto de prescindir de duas horas do meu tempo livre sem ar fresco. Combati a neura do confinamento com corrida ou longas caminhadas, passando o máximo de tempo ao ar livre, nos limites do razoável para cumprir as minhas obrigações e respeitar o dever de confinamento.

Para me fechar voluntariamente numa sala durante duas horas preciso de um bom motivo e alguma mentalização. A semana passada fui ver o Nomadland ao Nimas e correu bastante bem. O facto de ser um cinema de rua ajuda muito. Hoje fui ver a peça Noite de Estreia ao Teatro da Trindade e correu ainda melhor. Ver cinema em sala é bom, mas a experiência teatral é insubstituível. Depois da peça ainda fiquei para uma conversa entre os actores, encenador e a restante equipa e o público (mais uma hora fechada) e valeu a pena, pois é um momento raro e precioso.

O cinema e o teatro aconteceram durante a tarde, mas jantar fora implica sair à noite. Outra barreira a vencer. E quando digo sair à noite, não estou a falar de chegar a casa às duas da manhã, mas sim antes da meia-noite. Ainda é estranho estar fora de casa depois das nove da noite. Gostei de rever os amigos, mas senti um certo alívio em voltar para casa segura e enfiar-me na cama com um livro. Também nas leituras senti mudanças ao longo destes tempos (peguei e larguei vários títulos), embora nunca tenha deixado de encontrar conforto e apoio na leitura. Este fim-de-semana comecei a ler a Ivone Mendes da Silva e mais uma vez confirmei que não há alturas piores para ler, é só questão de encontrar o livro certo.

Além dos medos e inseguranças, acho que há uma inércia a vencer para retomar o ritmo da vida social e cultural. Aos poucos, redescobrir o prazer do cinema, do teatro, dos jantares e saídas de amigos. Com muitas caminhadas pelo meio (a Ivone compreende-me, ela não passa um dia sem caminhar).

Até para a semana,

Céu

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