Mãe, por que é que fizeram o Dia da Mulher?





Queridas Senhoras,

ontem a Alice perguntou-me por que é que existe o Dia da Mulher. Apanhou-me desprevenida, entre uma varridela na casa e o jantar ao lume, mas sempre lhe fui dizendo que o Dia da Mulher foi criado porque dantes as mulheres não podiam fazer as mesmas coisas que os homens. Não podiam votar, por exemplo, ou viajar sem autorização do marido. E muitas não podiam trabalhar fora de casa. “Então o que é que faziam?”. Ficavam a tratar da casa e dos filhos. Não acrescentei que hoje fazem exactamente isso, à mesma, mais o trabalho fora de casa, mais cuidar de pais idosos, mais….

Se a Alice fosse um pouco mais crescida, podia dar-lhe a ler vários artigos que explicam por que é que ainda precisamos do Dia da Mulher. Ou podia pô-la a conversar com a tia Carla, a minha querida amiga e grande mulher Carla Ganito, que há muito tempo se vem dedicando ao estudo das questões de género, no âmbito das suas investigações académicas. A Carla sabe explicar muito bem e dar óptimos exemplos que demonstram por que é que ainda precisamos, e precisaremos se calhar durante muito tempo, do Dia da Mulher.

Mas se calhar dava a ler à Alice uma simples crónica, que li há pouco tempo, de uma senhora da nossa idade, aliás uma senhora mais jovem, uma rapariga descontraída e de discurso simples e directo – a cantora Ana Bacalhau.

“Leio aquele comentário à notícia da morte de Reeva Steenkamp às mãos de Oscar Pistorius e fico com a certeza de que há muito ainda a mudar na forma como até as mais insuspeitas sociedades encaram o feminino. Nesse comentário, alguém dizia de forma muito contristada que era uma pena o que tinha acontecido e que ficaria por explicar o que ela teria feito para que ele tivesse aquele gesto horrendo. Não me parece que quem tenha escrito tais palavras se apercebesse do quão reveladoras seriam. Revelam algo que sobrevive de forma tão insidiosa na nossa sociedade, que quase passa despercebido. Quase, mas não totalmente.” (texto completo aqui)

O que me assusta é esta forma insidiosa. É a maneira como, mesmo nas mais aberrantes situações de opressão e violência doméstica, ainda há quem sugira que “alguma ela deve ter feito” para ele a tratar assim.

Por isso, Alice, ainda bem que não sabes para que é que existe o Dia da Mulher. É porque ainda não percebes a necessidade dele. Aquilo que ainda não te digo, filha, é que enquanto houver qualquer forma de violência, subjugação, humilhação, ofensa sobre a mulher, por ser mulher, vamos precisar do Dia da Mulher.


Feliz Dia Internacional da Mulher!

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários