Queridas Senhoras,
hoje comecei o dia com este vídeo. Devo dizer-vos que já foi há umas horas e ainda estou a recuperar o equilíbrio. Vou recomendar-vos que o vejam primeiro e que só depois, se vos apetecer, continuem a ler este post, que falará sobre a amizade, sobre algumas das minhas recordações da infância e sobre uma combinação de rum e coca-cola muito especial.
Céu, podes ver sem som, só perdes a canção de fundo (I'd Do Anything for Love (But I Won't Do That), dos Meatloaf).
A perda do cabelo terá, possivelmente, sido aquilo que mais me impressionou no processo da doença da minha mãe. Melhor dizendo, aquilo que verdadeiramente me impressionou em primeiro lugar. Depois disso houve, claro, outras imagens que me marcaram. Durante a 'primária' assisti ao desaparecimento lento e muito doído daquela mulher que eu tanto admirava (era tão linda!) e temia (era tão exigente!). Bem, mas no dia em que fui visitar a minha mãe ao hospital onde fora operada, encontrei-a tão pequenina e frágil, sem cabelo (costumava vê-la de turbante ou cabeleira), que sonhei com uma colega da escola (a Gaby) exactamente na mesma cama de hospital, só que sem cabeça.
As amigas da minha mãe foram uma companhia, um conforto, um carinho inomináveis nos últimos anos da sua vida. Sempre soube isto e outra das memórias que guardo intacta é a do dia em que duas delas me levaram a despedir-me, porque estava na hora. Nunca soube como é possível perceber isso, mas elas perceberam-no e eu, com nove anos, entrei no quarto e dei-lhe um beijinho. Claro que só mais tarde percebi exactamente a dimensão daquele beijinho.
Terá sido há cerca de três anos, num encontro cá em Coimbra, que fiquei a saber que 'a bebida preferida da Marina era o rum-cola'. Eu, que bebo muito pouco, tenho sempre em casa uma garrafa do melhor Havana Club que consigo encontrar, e nos tempos (do século passado) em que ainda não nos chegava cá esse néctar de Cuba (os mesmos tempos em que eu bebia muito mais) íamos à sede da JCP, em Santos, bebê-lo clandestinamente. Por isso, sorri e soube que hei-de ter sempre, mas sempre, uma garrafa de Havana Club em casa.
Mas as revelações não ficaram por aqui. Num gesto muito controverso para alguns, as amigas da minha mãe deram-lhe a beber um rum-cola nos seus últimos momentos, quando ela já pouco comia ou bebia, quando já não falava. E ela bebeu-o com prazer.
A amizade pode ser um corte de cabelo extremo ou um rum-cola. Seja qual for a forma que tomar, não há nada neste mundo que se lhe compare.
Beijinhos a todas, com amizade.
Marta
hoje comecei o dia com este vídeo. Devo dizer-vos que já foi há umas horas e ainda estou a recuperar o equilíbrio. Vou recomendar-vos que o vejam primeiro e que só depois, se vos apetecer, continuem a ler este post, que falará sobre a amizade, sobre algumas das minhas recordações da infância e sobre uma combinação de rum e coca-cola muito especial.
Céu, podes ver sem som, só perdes a canção de fundo (I'd Do Anything for Love (But I Won't Do That), dos Meatloaf).
A perda do cabelo terá, possivelmente, sido aquilo que mais me impressionou no processo da doença da minha mãe. Melhor dizendo, aquilo que verdadeiramente me impressionou em primeiro lugar. Depois disso houve, claro, outras imagens que me marcaram. Durante a 'primária' assisti ao desaparecimento lento e muito doído daquela mulher que eu tanto admirava (era tão linda!) e temia (era tão exigente!). Bem, mas no dia em que fui visitar a minha mãe ao hospital onde fora operada, encontrei-a tão pequenina e frágil, sem cabelo (costumava vê-la de turbante ou cabeleira), que sonhei com uma colega da escola (a Gaby) exactamente na mesma cama de hospital, só que sem cabeça.
As amigas da minha mãe foram uma companhia, um conforto, um carinho inomináveis nos últimos anos da sua vida. Sempre soube isto e outra das memórias que guardo intacta é a do dia em que duas delas me levaram a despedir-me, porque estava na hora. Nunca soube como é possível perceber isso, mas elas perceberam-no e eu, com nove anos, entrei no quarto e dei-lhe um beijinho. Claro que só mais tarde percebi exactamente a dimensão daquele beijinho.
Terá sido há cerca de três anos, num encontro cá em Coimbra, que fiquei a saber que 'a bebida preferida da Marina era o rum-cola'. Eu, que bebo muito pouco, tenho sempre em casa uma garrafa do melhor Havana Club que consigo encontrar, e nos tempos (do século passado) em que ainda não nos chegava cá esse néctar de Cuba (os mesmos tempos em que eu bebia muito mais) íamos à sede da JCP, em Santos, bebê-lo clandestinamente. Por isso, sorri e soube que hei-de ter sempre, mas sempre, uma garrafa de Havana Club em casa.
Mas as revelações não ficaram por aqui. Num gesto muito controverso para alguns, as amigas da minha mãe deram-lhe a beber um rum-cola nos seus últimos momentos, quando ela já pouco comia ou bebia, quando já não falava. E ela bebeu-o com prazer.
A amizade pode ser um corte de cabelo extremo ou um rum-cola. Seja qual for a forma que tomar, não há nada neste mundo que se lhe compare.
Beijinhos a todas, com amizade.
Marta
muito obrigada pela partilha, claro que já me fizeste chorar :) um beijinho grande
ResponderEliminarRealmente os amigos fazem toda a diferença na nossa vida. Parece que não vamos sozinhos e que aguentamos tudo. Até morrer.
ResponderEliminarQuerida Catarina, obrigada pelo teu comentário (aqui e no facebook). E é mesmo verdade o que dizes.
ResponderEliminarQuerida Céu, não foi intencional mas compreendo que não seja muito fácil evitá-lo. Eu chorei muito esta manhã com o vídeo e depois percebi que tinha que partilhá-lo convosco (e quem conta um conto...)
ResponderEliminarBeijinhos grandes