Sob sigilo

 

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Queridas Senhoras,

hesitei em escrever sobre este assunto. Por causa do sigilo e assim. Porque tem a ver com trabalho e, segundo consta em pelo menos 33752 artigos sobre estas questões, as “entidades empregadoras” e/ou os “potenciais empregadores” andam a esmiuçar as redes sociais, os blogues e os nossos perfis em tudo o que (virtualmente) mexe.

Mas como seria demasiado optimista achar que tanta gente (e gente importante, com responsabilidades, com centenas de linkedins para analisar) anda a perder tempo aqui no nosso cantinho, vou arriscar.

A semana passada fui a uma entrevista de emprego. Houve de facto alguém que viu o meu CV (entre as centenas que chegam em resposta a todos os anúncios, segundo os boatos que correm) e achou que valia a pena falar comigo, apesar da minha desastrosa data de nascimento: 1974.

A verdade é que há 20 anos que não era chamada para uma entrevista (estou a exagerar mas não muito). De vez em quando respondo a um anúncio ou outro, que me parece potencialmente interessante mas NUNCA sou chamada. Dizem-me que acontece muito, mesmo que o candidato tenha a idade ideal, que anda ali entre os 28 e os 32, mais coisa menos coisa.

A sério, fiquei contentíssima por ter sido chamada, foi como se uma porta encerrada a ferros se tivesse entreaberto. E depois pus-me a pensar como é ridículo achar (os próprios, as empresas, a sociedade em geral) que 40 anos é muita idade para contratar alguém.

Tenho muito mais energia agora do que aos 20 anos. Aos 20 anos ia à faculdade umas horas e depois ia para casa estirar-me no sofá. E se fosse preciso andava cansada. (Se pudesse, eu com 40 anos estava agora a abanar o meu eu de 20). Agora faço meia dúzia de coisas ao mesmo tempo e cerca de três dúzias por dia. NA-BOA.

Portanto, fisicamente sinto-me melhor. Sou muito mais despachada e tenho uma maior capacidade de resolver problemas.

Expliquem-me outra vez: qual é mesmo a razão para as empresas não contratarem pessoas acima dos 40 anos (ou até 35)?

Ah, por acaso até já tenho os filhos crescidinhos, não requerem as atenções constantes dos bebés, e entretanto ainda ganhei, graças a eles, um treino de gestão de tarefas de fazer inveja a muitos programas de trainees. Que vou aperfeiçoando diariamente, sempre com novos desafios e a aquisição de novas competências (ex. resolução de puzzles).

Expliquem-me outra vez: qual é mesmo a razão para as empresas não contratarem pessoas acima dos 40 anos (ou até 35)?

Uma das razões que se costuma apontar é que pessoas mais velhas têm expectativas de salários mais altos. Ok. Naturalmente só mudaria de emprego se me oferecessem um salário de dois mil euros, mais seguro de saúde, entre outras regalias. Ah! Ah! Ah! Acreditaram? Estamos em Portugal e a minha área é a das ditas ciências sociais e humanas. Estamos a falar de um universo em que mil euros é considerado um bom salário.

Portanto também não é isso. Sinceramente não tenho perspectivas nem expectativas de alguma vez vir a auferir um grande salário. Não tenho jeitinho nenhum para ganhar dinheiro. Mas acho que tenho jeito para trabalhar. Gosto genuinamente de estar envolvida no trabalho, de participar em novos projectos e até, imagine-se o cliché, de aceitar novos desafios.

Não vou dizer que me sinto como se tivesse 20 anos porque nessa idade era o raio de uma miúda preguiçosa que passava demasiado tempo estirada no sofá. Aos 30 já fazia qualquer coisa mas ainda estava muito mal habituadinha. Agora é que estou no ponto.

Beijinhos a todas,

Céu

 

Comentários

  1. Mesmo! Se hoje aos 40 (a minha data de nascimento é pior, sou de 1973) tivesse acesso ao meu eu de 20 era uma festa! Mas também não entendo essa conversa das idades para os empregos, bláblá. Não é suposto termos mais experiência?

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  2. Olá Ana! Quanto mais penso no assunto mais absurdo me parece. Qual é a lógica, se somos activos e plenamente capazes até cada vez mais tarde, de começar a cortar os pés às pessoas a partir dos 35? Se a esperança de vida aumenta, se as pessoas trabalham até mais tarde, por obrigação e/ou por vontade, que sentido faz estar a discriminá-las quando vão apenas a meio do caminho? beijinhos Ana e boa sorte com esses 41 anos ;)

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