A circunstância da conversa

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Queridas Senhoras,

a Paula Silva tem na gaveta a ideia para uma peça de teatro que tem a ver com a interacção entre desconhecidos num determinado espaço. Obviamente, não vou revelar detalhes, seria uma inconfidência imperdoável. Mas a premissa de colocar desconhecidos à conversa é sedutora e cheia de possibilidades.

A peça Escrever, Falar (pelo Teatro dos Aloés, texto de Jacinto Lucas Pires,  em cena nos Recreios da Amadora, de quarta a sábado às 21h30, domingo, às 16h, até 26 de Julho) coloca duas personagens (dois homens) em palco num cenário absolutamente vazio. O que fazem esses dois homens? O que dizem um ao outro? Falam de si? Olham-se nos olhos?

É difícil sustentar o olhar de alguém. Quando por acaso cruzamos o olhar com alguém na rua, nos transportes, no trânsito, o instinto é desviar os olhos, fingirmo-nos de repente interessados noutra coisa. Os dois homens serão capazes de se olhar, de se aproximar? De se tocar? Se um tropeçar e cair, o outro ajuda-o a levantar-se?

Se falarem, irão além da conversa de circunstância? As frases feitas sustentam muita da nossa comunicação diária e são a salvação de situações incómodas. Evitamos o silêncio e preenchemo-lo com palavras inócuas, pré-fabricadas. E o calor que está hoje? Estava-se bem é na praia. Só se for dentro de água.

Dois homens encontram-se e ensaiam tentativas de uma conversa, entre banalidades e confissões. São possibilidades, encenações, projecções.

Não se sabe se chegam a trocar uma palavra.

Beijinhos a todas,

Céu

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