Queridas Senhoras,
quem nunca quis puxar os lençóis bem para cima e ficar assim por tempo indefinido? Eva Beaver, uma bela mulher de 50 anos, se bem pensou, melhor o fez. No dia em que os seus gémeos de 17 anos, Brian Junior e Brianne, partem para a universidade, com os seus cérebrozinhos de génios matemáticos e o egocentrismo de quem se julga destinado a grandiosos feitos, Eva mete-se na cama. E de lá não sai.
Depois de dezassete longos anos a cuidar dos seus dois prodígios meio sociopatas, hackers frequentadores da dark net, e de um marido astrónomo (trabalho fundamental para a humanidade, não pode perder tempo com miudezas!), a tratar de limpezas, roupas, compras, doenças, escolas, férias, Natais, Thanksgiving Days..., Eva resolve, finalmente, descansar.
The Woman Who Went to Bed for a Year (tradução portuguesa A Mulher que Decidiu Passar um Ano na Cama, da Presença) é a história do que acontece quando alguém de quem se espera que “funcione” normalmente, avaria de repente. Sue Townsend (1946-2014), essa mesmo, publicou este livro em 2012, e aqui vamos encontrar o tom cáustico, as situações delirantes, a raiar o absurdo, que tão bem conhecemos dos diários do adolescente mais famoso de sempre. Adrian Mole, esse ícone dos anos 80 e 90, não é estranho a este ambiente de uma família “normal”, mãe, pai, dois filhos, duas avós, vizinhos e companhia. Só que de “normal” têm todos muito pouco. Cambada de weirdos.
A atitude radical e passiva de Eva desencadeia todo o tipo de estranhas reacções e comportamentos. Se no seio familiar receiam doença mental e querem que ela seja vista pelo médico, no exterior, à medida que a notícia se espalha, cresce um fenómeno de culto, com a ajuda das redes sociais, à volta da Woman in Bed. Vêm fanáticos de todo o lado, dispostos a tudo para conseguirem dez minutos com Eva. Esperam dela o mesmo que procuram nos livros de auto-ajuda ou nos artigos de revista que ensinam a ser feliz em dez passos (mais não). Acreditam que Eva tem a solução mágica para os seus problemas sentimentais, familiares, profissionais, para os seus medos e angústias, crimes e escapadelas. (Até que descobrem que Eva é uma mulher "normal", com pés de galinha, despenteada e ainda por cima com o cabelo a ficar grisalho. E aí partem para outra.)
Sue Townsend traça um apurado retrato cómico-trágico da vida familiar, das relações entre marido e mulher (e a amante, que entretanto se muda para o jardim de Eva), da solidão em que vivemos, das tentativas que fazemos para ser aceites e para alcançar essa equação perfeita: amar e ser amados.
O amor é complicado, há coisas mais simples. Kindness vem a ser uma palavra-chave nesta história. A gentileza de segurar uma porta, não para uma senhora passar, mas para qualquer pessoa passar.
Tratar sempre toda a gente com gentileza. Já imaginaram a revolução que isso faria no mundo ou, mais simplesmente, na vida de todos os dias?
Beijinhos a todas!
Céu
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