Queridas Senhoras,
não sei se conhecem o Dr. Bull, um psicólogo charmoso que trabalha em casos judiciais de uma forma muito particular: analisa e tenta influenciar os jurados de maneira a conseguir um verdicto favorável ao seu cliente. Bull é uma seriezinha simpática, não mais do que isso, com uns episódios mais interessantes do que outros, dependendo do tema tratado. De resto, a estrutura é muito esquemática, seguindo sempre o mesmo modelo.
O caso apresentado no episódio de ontem foi curioso em vários aspectos e, sobretudo, para o que aqui nos importa, por colocar em discussão uma questão de género invertendo a perspectiva habitual. É o caso clássico do envolvimento de uma professora com um aluno. Ela tem 24 anos, ele 17. Os pais do miúdo querem que a professora seja condenada por conduta imoral, abuso de poder, etc. Em princípio, a sociedade é complacente com esta situação. As mulheres não são usualmente vistas como predadoras sexuais. Se um garoto de 17 anos anda “a comer” a professora de 20 e tal, merece palmadas nas costas e muita galhofa com os colegas. Invertam-se os papéis, professor-aluna, e a história muda completamente de figura.
Dating down (expressão que eu desconhecia mas com milhares de entradas no Google) foi como o Dr. Bull descreveu o comportamento da professora. À partida o termo causa repulsa, ninguém é superior a ninguém e até parece coisa ultrapassada (remete para outros tempos, em que se falava de namorar ou casar "abaixo da sua condição"). Mas aquilo a que dating down faz referência é ao exercício de poder numa relação. Alguém com uma posição hierárquica superior (professor, patrão, chefe, supervisor) envolve-se com uma pessoa que está em baixo na cadeia para obter a satisfação que advém do exercício da autoridade e da admiração, devoção, adoração que nela suscita.
Perdoem-me a psicologia de pacotilha mas já agora avanço mais um pouco nas explicações do Dr. Bull. Quem na infância foi insuficientemente amado, admirado, aplaudido, quem sofreu uma ausência importante na plateia de que todos precisamos no palco em que actuamos, continuará pela vida fora a buscar incessantemente adoradores embevecidos, fáceis de controlar e dominar.
É claro que isto não explica tudo nem representa todos os casos. Mas pensemos nos homens mais velhos que procuram parceiras 20 ou 30 anos mais novas. Ou, para sermos justos, no inverso também, embora seja muito mais difícil para uma mulher, digamos, de 50 anos, envolver-se com um rapaz de 20 ou 30. Já para não falar de como são culturalmente aceites / condenadas as duas situações.
Beijinhos a todas,
Céu
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